domingo, 28 de outubro de 2012

por cima do muro de hipocrisia


Filho,

Eu fico choramingando por aqui, por aí, aos quatro cantos, a saudade que sinto de você, Dé...

É claro que tenho saudade! E não iria ter decerto? Mas é bom que se diga que eu me sinto muito feliz por você estar fora, a estudar, a conhecer o mundo, a viver a própria vida, fazer as próprias escolhas, tratar do presente, do futuro, do seu nariz!

Tenho orgulho de ser mãe de um piá que age como homem, que saca as coisas...

Não quero que você volte, filho. Não tenho vontade de colocá-lo de volta debaixo de minha asa, da minha opressão, da minha batuta. Você já é o seu regente. Essa é a sua vida e ela tem que ser vivida do jeito que você quer, gosta e planeja.

Vida é assim: cada um tem a sua!

Tenho orgulho de dizer que você está em Portugal, que pensa em mestrado no exterior, que faz planos, que se cuida sozinho. Penso que foi pra isso que te eduquei durante esse tempo, para que, autônomo, você siga hoje e sempre o seu caminho.

É claro que você sabe que essa é sua casa e que sempre estará com as portas abertas e os braços encharcados de saudade, o que não significa que seja necessário cortar suas asas. 

As asas não têm nada a ver com as raízes! Cada coisa em seu lugar.

Amo-o, longe e perto!


terça-feira, 23 de outubro de 2012

é de manhã...


Eu adoro quando chove bastante. Já escrevi aqui sobre esse tema.

Amo quando a chuva bate no vidro; quando há trovões na praia; quando o vento uiva; quando as cortinas balançam; quando a grama ensopa e quando acaba tudo e sobra aquele cheirinho de terra.

Eu e minha Lívia somos campeãs em olhar para natureza e reconhecer a beleza gratuita diariamente. Ela me conta de árvores grandes e impressionantes que encontra por seus caminhos. Compartilhamos dos desenhos e cores do céu, das faces da lua, dos barulhos da chuva...

Ontem assistimos juntas ao temporal do final de tarde e juntas observamos os estragos que nos sobraram: em casa, na rádio e nas ruas do nosso caminho. Incrível foi observar que apesar de tanta força de água, pedra e vento as flores mantiveram-se firmes. Nem encharcadas nem no chão, mas quietas, agarradinhas ao caule, como se nada tivesse acontecido. Como que as flores têm tanta força se quando a gente passa a mão elas logo se desgrudam e se despedaçam em pétalas? Meus amigos biólogos podem me contar?    


sábado, 20 de outubro de 2012

minha coleção de vexames...


Pode ser que eu só estivesse cansada, fisicamente cansada, pelo acúmulo de noites mal dormidas. Ou esgotada, emocionalmente esgotada, com a gangorra que se tornou minha vida. Ou distraída, mentalmente distraída, completamente voltada para as minhas questões. Ou em qualquer outro estado que me tirou de meu modo de operação normal pra cometer vexame e imprudência tamanhos.

Mas o fato é que quando eu parei no semáforo e o guri bateu na janela querendo falar comigo e eu desci o vidro e ele me pediu dinheiro de forma tão intimidadora, eu olhei pra ele faiscando e larguei:

- Se você pensa que vai me meter medo com essa sua voz feia, você está enganado. Se tiver armado tudo bem, mas berrando assim aqui não vai conseguir nada!

E ele, meio assustado mas rindo:

- Pô tia! Não precisa falar assim eu só tô pedindo...

Não recuei e o interrompi insana:

- Tia é a sua mãe!

Ele revidou vitorioso:

- Não. A irmã dela é minha tia!

Que fiasco! Que perigo, mas nem ligo!!!


sexta-feira, 19 de outubro de 2012

na aurora da minha vida



A casa da minha infância não era a mais bonita da rua, não era a mais charmosa, nem a mais rica. Mas ela tinha detalhes tão interessantes que a transformavam na mais surpreendente –  pra mim e para os vizinhos, naqueles bons tempos em que se tinha vizinhos...

O lindo, vistoso e cheiroso pé de jasmim; a robusta roseira; um xaxim imenso; margaridas exibidas e toda sorte de flores que minha mãe tão bem sabia (e ainda sabe) cultivar. Garagem estreita, que carimbou todos os carros da família. Longas calçadas que me permitiram treinar antes de ganhar as ruas com as modas de todas as épocas lançadas sempre no natal: bicicleta, patins, patinete, rolimã, skate, vôlei, tênis. Churrasqueira imensa, com longa mesa e bancos de madeira. Escorregador alto que incentivava todo tipo de brincadeira: casinha em baixo, malabarismos em cima, espionagem da vizinhança, colheita de ameixas e tudo que a imaginação livre permitisse.

Havia um porãozinho que não devia ter mais que um metro de altura, que minha mãe chamava de lá-em-baixo-do-assoalho e que eu fazia de laboratório, morrendo de medo de aranha.

A casinha do cachorro era uma graça, com cachorro de verdade, que brincava com a gente, tomava banho de mangueira, cavava o jardim e comia as sobras do almoço e do jantar.

Roupas no varal, a secar e estendidas na grama, a coarar.

A casa da minha infância era enorme: três belos quartos, cozinha copa, banheiros, salas, lavanderia e muitas, muitas, muitas janelas que aprendi a lavar de um jeito que até hoje ninguém me ganha nessa arte da transparência.

Crianças, eu e meus irmãos, passamos a convidar a rua toda para as sessões pioneiras de ferrorama, depois de autorama, depois de projetor, vídeo-cassete, vídeo-game, aeromodelismo e toda a parafernália eletrônica que meu pai era fã – de pipoqueira a bonecas que falavam; de carrinhos com controle remoto ao computador (já em 1985).

Lembro de muitos aniversários, de traquinagens que até hoje receio que minha mãe descubra, de shows montados na área da frente, de festinha na garagem.

Minha mãe ainda mora lá. A casa não é mais a mesma, sofreu reformas, encolheu, modificou, lutou contra a ação do tempo, ganhou novas cores, nova serventia, novo papel. Quando chego, as vezes a reconheço, as vezes sinto saudade, as vezes choro...

3x4


Amanhã é aniversário do meu grande amigo, pediatra de plantão, companheiro de todas as horas e perfeito interlocutor para as minhas conversas de homem.

Há tanta felicidade em mim em poder passar essa data perto dele e de sua impressionante família, que nem sem contar... Ano passado rolou uma super festa, chique pra chuchu com o melhor da culinária e da música e eu não fui, não pude ir. É bom ter a oportunidade, agora, de aproveitar essa data por perto.

Pessoa do tipo rara, especial: olha pro outro; se importa com o próximo; não se deixa abater; é livre pra ouvir; consegue ver graça nas coisas; observa o mundo; não condena; é inteligente, interessado, interessante; admirado por sua medicina; tem gosto musical apurado; super inclinação para as artes; sabe viajar; entende de tecnologias; se interessa por assuntos completamente alheios ao seu cotidiano; é pai exemplar; super marido.

Tira o olho! O Fábio tem dona! Ele é marido da minha querida Vânia; pai daquela coisinha que é a Laurinha; padrinho, por escolha livre, da minha Lívia; é amigo do meu filho. Perfeito conselheiro das minhas encrencas pessoais, profissionais, sentimentais, emocionais e todas as outras que vão surgindo com o decorrer do dia ou dos dias e que não tenho lá grandes pudores em dividir com ele...


Um caráter raro! Agradeço por ter a oportunidade desse convívio. É uma honra poder levantar um brinde a você, Fábio Motta! Saúde!!!



Queijo e goiabada! A dupla perfeita!


terça-feira, 16 de outubro de 2012

e se o arapiraca for campeão?



Nessa noite, perseguida por uma insônia ridícula que agora acha que é minha amiga, fiquei a pensar sobre minha vida. Na tentativa de fazer planos para um futuro próximo, caí numa avalanche de análises do passado. Em seguida, numa armadilha de hipóteses sobre o que aconteceria caso eu tivesse tomado decisões diferentes até aqui. Isso me levou a me mandar de volta para o futuro, a pensar como poderá/poderia ser minha vida caso algumas coisas aconteçam agora. Lá pelas tantas estava me divertindo com as possibilidades:

-       e se eu ganhar na loteria?
-       e se eu largar tudo e for embora pra Antonina?
-       e se eu me mudar definitivamente pra Europa?
-       e se eu fizer um curso de fotografia?
-       e se eu simplesmente mandar praquele lugar quem tanto me enche o saco?
-       e se eu raspar o cabelo?
-       e se eu romper com tudo que me faz mal?
-       e se eu falar a verdade sobre tudo?
-       e se eu me matricular numa academia?
-       e se eu aprender a falar inglês?
-       e se eu agarrar firme o meu destino?
-       e se cair neve no sertão?

Aff!

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

ao compasso do meu coração


Sonhei com o Wilson das Neves essa noite! Sonho bobo, daqueles misturados, que não valem ser contados...

Amanheci com a memória de sua voz curtida, da impressionante bateria e de sua contagiante alegria. Imediatamente lembrei de uma história ótima que vivi por causa dele há alguns anos.

Sempre fui sua fã. Mais que admiradora, fã. Tive a oportunidade de estar com ele algumas vezes, mas sempre fugi (em situações tão engraçadas que acho que cada uma delas valeria ser contada) porque tinha certa timidez, receio, sei lá...

Mas uma vez, trabalhando, precisei enfrentá-lo. Me concentrei nas tintas profissionais e tratei de seguir em frente. Apesar dos meus esforços, ele percebeu minha emoção e fez graça, brincou, insistiu e em pouco tempo estávamos a rir e contar coisas, com tanta empatia que acabou emocionando e contagiando quem estava por perto.

Naquela noite fui assistir show da queridíssima Eliane Bastos, onde ele faria uma participação. Eu, sentadinha na plateia, ouvi Eliane linda, afinada, emocionada e emocionante. Wilson entrou no palco lá pelas tantas: elegante, terno de linho branco, com um lencinho na mão, naquele caminhar malandro, lindo. Quando chegou ao centro do palco, microfone em punho:

 - Adriana, você está aí?
 - Presente! – surpresa, levantei a mão timidamente.
 - Preciso conversar com seu pai, quero casar com você, vou pedir sua mão...

Foi a glória!!! Nunca mais vou esquecer disso.
Salve Wilson!!!



"O samba é meu dom

Aprendi bater samba ao compasso do meu coração

De quadra, de enredo, de roda, na palma da mão

De breque, de partido alto e o samba-canção

O samba é meu dom

Aprendi dançar samba vendo um samba de pé no chão

No Império Serrano, a escola da minha paixão

No terreiro, na rua, no bar, gafieira e salão

O samba é meu dom"


terça-feira, 9 de outubro de 2012

e eu fiquei assim, calada sem latim


Quando abri os olhos hoje pela manha pensei: “tomara que esse dia acabe rápido!”. Caminhei para minha rotina sem ânimo nem humor. Tentei escorregar pelo ralo do chuveiro as preocupações cotidianas, respirei fundo, ensaiei cantar... coloquei roupa sem passar, batom sem cor, sandália sem salto.

No caminho para o trabalho reparei nas flores, nas árvores, na música. Tédio! Por que será que tem dia que é assim?   

Eu sou habituada a viver sob o signo da paixão. Tudo é muito: ótimo, péssimo, preto, branco... quando estou assim, meio morna, meio tonta, meio desbotada fico cansada. Não sei lidar bem com os tons pasteis...

Mas a verdade é que torcer para que um dia passe logo é uma burrice sem fim, porque cada dia a mais é um dia a menos. E pra que que serve um dia em que dele não se aproveitou nada? Pra onde vai esse dia completamente infrutífero, que não se semeou nem colheu nada? 

Eta vida besta!

Preciso ser invadida por uma onda de ânimo...

Socorro Taís!!! 



sábado, 6 de outubro de 2012

zum de besouro


Quem entende de solidão?

Eu entendo!

Entendo quando saio de casa pela manhã e há milhares de pessoas pelas ruas;  quando toca o telefone e alguém fala comigo; quando respondo 45 e-mails por dia; quando vou ao cinema.
Entendo mais ainda quando lavo a louça, espano o pó, passo a roupa, ganho o pão, faço piadas comigo.

Eu sei da solidão desde criança quando montei um laboratório no porão de casa e contrabandeava porções de xampu, cremes, azeites, folhas secas, flores caídas, perfumes, materiais de limpeza e tudo aquilo que podia misturar para brincar de magia... passava horas sozinha e em solidão fazendo meus experimentos.

Depois que cresci passei a liquidificar sentimentos. Sozinha, aprendi a consumir minhas angústias, medos, aflições. Saquei que dividir emoções era muito pra mim, que eu não aguentava. Passei a vida cultivando a solidão.

Maternidade, amores, amizades me tiraram um pouco – um pouco! – disso, mas na minha essência, meu caminho é solitário. De quando em vez isso acaba por me ferir e me fazer infeliz; mas no mais, vivo bem e aprendi a compartilhar só o que não perturba ninguém.  

Acho que todo mundo é um pouco assim...