As vezes fico escondida em casa. Aqui ninguém
me acha. O cobertor é o manto da invisibilidade!
Aprendi que quando a gente está muito triste,
sem vontade de conversar, sem querer saber do mundo, é melhor se enfiar em
casa. Porque ninguém tem muita paciência ou boa vontade com deprê alheia – há
de se cuidar das próprias antes.
Por isso, quando não quero dar explicações,
forçar sorrisos, fingir interesse, me tranco em casa.
O engraçado disso, é que acho que não por
acaso, casa tem asa na grafia. Trancada a sete chaves, eu vôo por aí... percorro os
lugares da minha memória, visito meu passado, caminho pelo futuro. Vou e volto.
Vou, não volto.
No silêncio da minha casa faço descobertas
impressionantes, conheço possibilidades estonteantes, desenterro tesouros, coloco
pá de cal em besteiras.
No conforto da minha casa, piso em espinhos,
alongo pensamentos, choro sem testemunhas.
Na proteção da minha casa, caminho sem roupa,
penso sem censura, tiro a maquiagem.
É em casa, bem dentro de casa, que meus vôos
vão mais longe, mais alto, mais pra fora.
E em dia de faxina, então? Afff! Aí ninguém
me segura.
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