Colecionei bobagens em baús e abri gavetas
mofadas para que fantasmas pulassem. Ataquei-os.
Descobri mistérios, desvendei segredos, criei
enigmas. Andei, pé ante pé, ao ladinho de precipícios, joguei fora a sombrinha,
escorreguei.
Caí, levantei, repeti.
Construí realidade paralela. Comprei
passagens. Descobri outro mundo. Ganhei presentes.
Aprendi lições, ensinei outras, tornei a
aprender o que ensinei e esqueci o que aprendi.
Voei perto de estrelas. Rastejei em terra
seca. Cavei buraco. Afundei no poço.
Tomei impulso. Desci ladeira. Saltei tobogã.
Pedalei milhas.
Cansei, descansei, repeti.
Não sei mais de onde vim, nasci, cresci.
Esqueci tudo que fiz.
Não tenho planos, desenganos ou esperanças.
Sou só. Só sou.
Estou aqui, geografia alterada, caminho
trancado, grades no coração. Provoco novos amores, deixo cair vidros que se
espatifam no chão.
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