O pessoal do meu antigo trabalho me ligou
nessa semana para eu fazer um servicinho por lá. Fiquei bem feliz. Primeiro
porque é legal saber que as pessoas ainda precisam da gente. E também porque
uma graninha extra, nesses tempos em que estranhamente minhas contas se
multiplicaram, cai bem.
Pois muito bem, parei, sorridente, em frente
ao computador e fiz o que sempre faço: nada. Um nadinha aqui, outro ali...
Navegação vaga e boba para distrair pensamentos. E me arrastando
interneticamente por endereços repetitivos e entulhados de coisas, notícias,
informações e besteiras, encontrei isso aqui: Olhos de vidro: Uma arte em declínio?
Caraca! Fiquei pensando nos mais diferentes
trabalhos inventados para que o homem encontre seu sustento, seu passar a vida,
seu distrair das questões ou seja lá o que for que representa, de verdade, o
trabalho para cada um.
E esse pensamento me carregou para uma cadeia
de inquietações de coisas que preciso na minha vida e para as quais gostaria
muitíssimo de ter profissional habilitado para tratar:
- a troca das lâmpadas da minha
casa (eu detesto quando uma lâmpada queima. Se uma pessoa fosse especialista em
saber, exatamente, o tempo da vida útil das fontes de cada cômodo da minha
casa, com suas particularidades, poderia se antecipar em horas na troca e, sem
desperdício, teria sempre uma casinha lindamente iluminada sem me irritar tanto
com a tarefa – em termos chiques poderia ser um exchanger lamps personal).
-
a organização dos tupperwares no
armário (sonho em abrir a porta do armário que fica em cima da mesa
da cozinha durante três dias seguidos sem ser atingida na cabeça por uma tampa
ou um pote ou um medidor ou qualquer outro objeto indisciplinado que quando vê
a luz da liberdade resolve pular pra fora, sem dó nem piedade de quem está na
frente. Por mais que dedique horas nessa organização, em pouquíssimo tempo a
confusão está formada de novo – alguém conhece algum organizer tupperware?).
-
a luz do abajour do meu quarto
(eu não gosto de dormir no escuro, nem com luz. Se a luz está apagada, não
consigo dormir. Se a deixo acesa, ela acaba atrapalhando o meu sono e acordo de
madrugada para apaga-la, mas apagando-a, não consigo dormir e o círculo vicioso
se instala. Bom seria que alguém sempre apagasse a luz depois que eu dormisse e
pronto).
-
do outro pé de meia (as meias da
minha casa acabam se tornando solitárias, infelizes, sofrem pela falta de seu
par. Eu não descobri em qual situação o casal se separa, só sei que me dá
coceira quando puxo o par e só vem um pé. Se alguém se encarregasse de cuidar,
de andar de mãos dadas com os dois pés de meia quando elas saíssem dos meus pisantes,
tudo seria mais fácil).
-
da minha caixa de e-mails
(recebo, mais ou menos, uns 70 e-mails por dia. Metade deles, de propaganda, venda
de alguma coisa, ofertas e afins o que não significa que não quero saber,
porque vai que tem alguma coisa que interessa. Uma boa parte é de trabalho,
compromissos profissionais, providências urgentes, que eu tenho que responder
com concentração e muito siso. E outro pedaço é de coisas pessoais, que,
normalmente, me alegram e me colocam em contato com pessoas que gosto. Tudo
isso toma um tempo danado e eu não consigo delegar pra ninguém porque ainda não
encontrei um profissional qualificado, capaz de fazer a triagem como se fosse
eu e de entender os pormenores das correspondências e de minhas necessidades,
obrigações e deleites diante delas).
-
das plantas da sala (eu adoro
plantas, muitas plantas, amo a casa abarrotada de folhagens e flores e
mini-árvores e ervas para cozinha. Mas não sei cuidar. Ouvi um dia desses a
frase “se existisse a sociedade protetora dos vegetais, você estaria em cana”.
Um jardineiro? Não. Não é esse tipo de tratamento. É algo diferente, quero
alguém que deixe meus vasos do meu jeito e não que os transformem em arranjos
pedantes como os de recepções bregas de casamento. Queria uma coisinha simples,
do tipo feito em casa, feito por mim, mas que sobrevivesse à rotina doméstica
de uma casa que tem milhões de outras coisas a dar atenção. As flores de
plástico não morrem, mas não vivem também, então não dá).
-
dos CDs (eu tenho alguns CDs em
casa. Não muitos, comparando com outras épocas da minha vida, mas mesmo assim, apesar
do pouco número, tenho alguma dificuldade em encontrar um ou outro na
disposição atual. Já os organizei por ordem alfabética – não deu certo porque
cada novo volume exigia um esforço de espaço; um disco novo do Paulo Moura e lá
ia eu mudar tudo que vem depois do P um pouquinho pra direita. Depois tentei
por estilos – outro erro; vamos continuar com o Paulo Moura como exemplo, um CD
do clarinetista poderia ocupar as categorias “instrumental”, “choro”, “samba”,
“choro instrumental”, “samba instrumental”, “duetos”, “quartetos”, “clarinetes”,
“quartetos nacionais” e por aí vai. Aí me falaram pra arrumar cronologicamente,
putz!, grande erro; minha discoteca tem uma preferência pelos anos 60 e um
grande buraco na década de 80, por exemplo. Tentei pela cronologia dos
artistas, quem nasceu antes fica primeiro, o que é muito mais confuso e
irritante, como que Terence Trent D’arby pode ficar perto de Na Ozzetti só
porque tem idade parecida? Não dá. Alguém precisaria arrumar isso pra mim de
acordo com a minha cabeça, e as associações que estão dentro dela, para que eu
pudesse encontrar de bate-pronto cada disco).
Uma ou duas pessoas resolveriam tudo
isso? Claro que não! Eu quero tratamento exclusivo para cada tarefa, para
garantir a especificidade da função e o alcance do objetivo sem desassossego ou
imperfeições ou reparações ou atrasos ou explicações.
Como sei que não encontrarei profissionais
assim, e se achar não poderei pagar pelo quadro completo de funcionários que me
tirariam do caos e só apareceriam quando precisasse deles, vou vivendo com
minhas dificuldades cotidianas...
a questão do abajur eu posso resolver, Adri... ahn... não apagando ele depois da Adri dormir, calma Carlos Alberto! É só comprar um timer de tomada. vou ver onde tem e te falo. Claro que acaba totalmente com a poesia da sua constatação... Mas nós homens somos assim, práticos... Beijo. Alex
ResponderExcluireu tenho sérios problemas com o time, o tempo, o andamento... fico ligada, pensando: "desligue adriana, durma antes que dê o tempo do time.." e isso me coloca numa roda viva também. é outro círculo vicioso.
Excluirmas gostei da indicação, da praticidade para minha neurose.
acho que vou atrás de terapia...
;-)
MALDITOS TUPERWARES! então não é só aqui em casa que eles fazem rebelião dentro da gaveta!
ResponderExcluirpost divertido! também me canso com algumas coisas da rotina que poderiam não existir e lembro daquele filme bomba CLICK que o Adam Sandler tem um controle remoto para pular essas partes chatas...
JOPZ
os potinhos plásticos ensaiam a dominação do mundo, jopz. tenho a impressão que qualquer dia desses eles irão fazer fila em praça pública, tomarão as ruas, invadirão os espaços públicos e, de mãos dadas com as sacolas, nos farão escravos...
Excluirimagine que depois de escrever esse post, comecei a pintar a cozinha aqui de casa e no meio disso, estourou encanamento da caixa d'água. tô com vontade de fugir.
hoje to mais para "um dia de fúria" que pra "click".
espero tempos melhores para semana.
ahhhhhhh UM DIA DE FURIA... deveria ser LEI... todo mundo teria direito a pelo menos um dia de furia durante a vida, e todos os crimes e atos praticados nesse dia de furia seriam perdoados!
ResponderExcluirJOPZ
e bem que poderia ficar decretado que todos os atos do dia de fúria seriam apenas justiça com as próprias mãos. justiça, nunca crimes...
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