Eu não formei muitos pares. A inclinação de
interesse na vida alheia sempre me fez preferir relacionamentos longos, com
mergulho na vida do parceiro, conhecimento das particularidades, essas coisas.
Mas me envolvi com tipos variados.
Tive namorado que era perfeito para os
programas de música. Se eu não lembrava o nome de um compositor, ele revelava
certeiro: Vicente Barreto! Antes de eu saber dos shows que aconteceriam na
cidade, ele chegava com as entradas. Disco novo no mercado?, eu conhecia todos
antes do lançamento. Mas ninguém ama uma pessoa só porque ela também é fã do
Tom Jobim.
Um outro me ensinou a me divertir. Me levava
para dançar, saracoteávamos até o corpo não aguentar mais. Teatro, cinema,
parques... a vida acontecia na hora do recreio. Mas ninguém ama um homem só
porque ele sabe curtir os prazeres.
Depois veio aquele das conversas
intermináveis sobre assuntos inesgotáveis. Falávamos sobre tudo e tudo nos
interessava. Horas e horas de papo. Mas na prática, ninguém ama ninguém por
conta de suas teorias.
Também passei pela fase de ser mantenedora da
felicidade alheia. Jactância de papel importante: sem mim, a criatura não
poderia ser feliz. E me esforçava em cuidados, preocupações, abdicava de minhas
vontades para lhe ceder meiguices. Mas ninguém ama quem lhe empalidece os
cabelos pelo prazer de ser cuidado.
Com tantos tropeços e sem os entendimentos
claros na cabeça, o amor chegou. O amor chegou e pronto, se estabeleceu sem
explicações, com um monte de informações contraditórias e situações antes insuperáveis.
Ele não gosta de Paulo Cesar Pinheiro?, e daí? Ele não vai a festas?, ótimo,
ficamos em casa. Não há teorias imensas?, melhor, sobra tempo para os beijos. E
assim por diante.
Eu não sei o que define o amor, o amado, o
amável, o amante. O que eu entendi é o que ele me causa, no que me transforma e
como modifica minha existência. Também saquei que é assim que quero me sentir
pro resto da vida e que não há outra forma de viver de agora em diante, a não
ser esta, dentro do sublime.
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