Ainda menina queria ser Gabriel Garcia Marquez quando
crescesse. Não tinha propósito com a escrita, mas buscava um jeito de me
aventurar em histórias bem contadas, tiradas de vida rica, olhar atento e
devaneios por decisão.
Fui conhecendo-o aos poucos e me apaixonando na medida. Teve
uma época que renunciei a todo pretendente porque bordava-o na cabeça minha
metade – sonhava, arquitetava planos, planejava viagens, decorava no espelho
falas completas.
Eu amei Marquez e no dia em que li no jornal uma gracinha
dele pra cima da Shakira, o odiei com o ciúme mais doentio e maluco que se tem.
Perdoei. Porque cabia a mim dar o passo para reconciliação.
Brigava sempre que ele visitava Fidel e falava aquelas
besteiras. Soube relevar, porque até o mais inteligente dos homens tem direito
às próprias bobagens.
Ah! tive os tormentos noturnos, as vontades de Cartagena,
Paris, México, o desejo de persegui-lo e guiá-lo. Quanto charme, quanto saber
do humano, quanta percepção...
Ele me convenceu com suas pretinhas deitadas no branco que o
melhor do mundo está no papel e a maior de todas as artes é dominar a
linguagem, quem tem esse poder convence qualquer um das mais impossíveis
histórias.
Fui Firmina Daza com cabeleira de Sierva Maria Todos los Ángeles, caminhei
por Macondo, experimentei gelo, virei Buendia, escrevi ao coronel, odiei Angela
Vicário e sua dupla de irmãos. Vivi mil histórias, sempre de mãos dadas com
ele, homem que me foi prometido e nunca entregue.
Agora, meus olhos arregalados me dizem que acumulo cem anos
de solidão. A história de toda a
humanidade louca de Marquez está aqui dentro, comigo, a fazer barulho de
velório.
Meu grande companheiro dessa vida foi embora – realismo.
Viverá para sempre em meus pensamentos e minhas vontades e todas as vezes em
que abrir um livro e sentir aquele cheiro ele se materializará de volta pra
mim, fantástico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário