segunda-feira, 7 de abril de 2014

rivotril em 3, 2, 1...



Eu queria fechar os olhos e ir. Rodar feito João Gilberto na direção do Monza. Deixar cair prum lado e outro, vela na brisa.

Corpo solto no mar, estendido de norte a sul, mãos leste a oeste.

Leveza de gaivota, pensamentos soltos, pés descalços.

Queria mais, queria ser pluma no gesto, palavra e ação. Queria ter a beleza etérea das bailarinas a hipnotizar no primeiro olhar.

Como seria bom flutuar por aí, passear de sítio em sítio e ser confundida com miragem, fantasma, sereia. Ilusão que se materializaria com voz suave. Quem me olhasse acharia que eu, suspensa, dominava a gravidade e fazia de todos os lugares a minha lua particular.

Assim, suave, branda, calma talvez me fosse permitido adormecer.


A insônia me provoca, me maltrata, me pinta o rosto.


Ela apura os sentidos: audição de morcego, biossonar, a captar qualquer decibel da rua, da madeira da casa estalando, de um carro a quadras de distância; visão de rapina, que enxerga longe, de felina, que desvenda formas no escuro, pupilas dilatas; olfato de perdigueiro, alguém fumando no andar de baixo, pétalas florescendo na praça da esquina, o vidro de perfume aberto. Fico à flor da pele, calor, frio, arrepio... 
Tudo em escala.

Não dormir é como aquelas drogas inglesas que se vendem com a promessa de ativar tudo. É estar entorpecida ao contrário, no antônimo. É o corpo a gritar na calada, é abrir os olhos para o escuro.

Não dormir é uma praga que revira a alma, causa dependência e estraga a noite, que é o melhor do dia.    
   


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