Fui ao Rio na sexta-feira. Trabalho. 12 horas
cariocas, mas muita coisa pipocando. Dentro e fora!
Eu nem ligo de ser caipira e ficar
deslumbrada com o Rio...
Estilhaços de beleza
“Tripulação, preparar para pouso” – a voz
metálica do comandante me fez olhar pela janela. O dia era cinzento, mas ali em
baixo estava o Rio de Janeiro, a Guanabara... Tão lindo chegar naquela cidade
pelo Santos Dummont! Que vista! Quanto deslumbramento! Estava tão emocionada
que cutuquei o cara ao meu lado e chamei a atenção dele para aquela beleza
toda, precisava falar com alguém, ele fez um sim com a cabeça, mas não me deu
trela.
Já fui ao Rio um milhão de vezes. De carro,
de trem, de ônibus, de avião. Toda vez que chego lá fico enlouquecida. Como é
que pode uma cidade ser tão, tão, tão linda?
Como tinha um tempinho, corri pra Urca (que
depois de Santa Teresa é meu lugar preferido!). Um ou outro turista, toda a
segurança do mundo, silêncio. Sentei e fiquei quieta a olhar pra tudo aquilo.
Sozinha, fechava quadros, ângulos bem pequenos: pedaço de pedra, recorte de
morro, onda batendo na areia, cabo do bondinho, militar fazendo guarda,
carrinho de sorvete, banquinho de praça, etc, etc, etc. Não é preciso olhar o
conjunto da obra pra se maravilhar, por partes, tudo também é belo.
Cidade de encantos mil!
Cidade de encantos mil!
A diferença entre Bandeira e República
O taxista disse assim: “Esse é o número 141,
da Praça da Bandeira é o seu endereço”. Olhei pro prédio. Um portão verde, de
ferro, muito mequetrefe, anexo ao prédio de uma sucursal da Igreja Universal.
Pensei que realmente o mundo ia se acabar em 2012... como que a rádio MEC podia
atuar naquele endereço? Insisti com o chofer, “será que não há outro 141 aqui”?
ele, pelo retrovisor, fez aquela cara, sabe? Não podia me chamar de idiota, então
lançou o olhar que me deixou envergonhada. Fui conferir o endereço na minha
agendinha. E mostrei, cheia de empáfia, afirmando “olha aqui ó, o numero está
certo: 141, Praça da República!” E ele: “Re-pú-bli-ca! Você havia dito Praça da
Bandeira!”.
Que vacilo! Ligou o taxímetro e se mandou,
cheio de pressa (sabe-se lá por que), para o endereço correto. Dessa vez, fez o
percurso sem falar, sem comentar sobre as belezas dos prédios antigos do Rio ou
as obras ou a Copa ou os traficantes... Ficou bravo comigo porque a corrida ia
ser maior do que a esperada. Não entendi, mas também não perguntei. O mau humor
dele, garantia o silêncio, que, para a situação, era melhor. Bem, melhor.
Como a praça da República é grande!
Movimento, chuva querendo cair, ônibus, gente,
carro, buzina, sirenes, giroflex, camelôs... e o taxista: “olha, o número 141
deve ser ali pra trás, porque a contagem está diminuindo. Para eu voltar vou
ter que dar uma volta imensa. Se você for a pé será mais fácil.” E ligou o
pisca-alerta, puxou o freio de mão, desligou o taxímetro e decretou: “são 18
mangos!”. Paguei e desci.
Fui contando o número dos casarões decadentes
das imediações e me desesperando, achava tudo, menos 141. Começou a chover.
Entrei numa banca e perguntei sobre a numeração, e o cara: “Moça, o 141 é do
outro lado da praça. Você vai ter que atravessar o Campo de Santana”, eu
reclamei da chuva, do horário, do taxista, da sorte... e ele gritou, colocando
a cabeça pra fora da banca “ô Zé, traz um guarda-chuva aqui pra moça!” e o Zé
apareceu, feito relâmpago, guarda-chuva em punho, 5 pratas. Paguei, agradeci, me
despedi e segui.
Campo de Santana em pintura de Franz Josef Frühbeck de 1818 (quando o mundo era menor!) |
Águas de março por todos os lados. Umbrella
só protegia meu rímel. Cheguei do outro lado da praça com o vestido branco colado
no corpo, os pés encharcados, descabelada, mas com a maquiagem intacta. Por
entre bancários, automóveis, ruas e avenidas, encontrei o 141, o prédio da
Rádio MEC, o meu destino, meu objetivo e ainda estava 6 minutos adiantada –
tempo que usei tentando me recompor para reunião.
A Rádio MEC
Prédio super antigo. Elevador com pantográfica e trancos entre um andar e outro. Os instrumentos sucateados, os móveis velhos, a construção gritando por reformas. Um complexo vertical, distribuído em 6 andares. 75 anos de vida, de histórias, de dial, de músicas, de sobrevivência. 75 anos de prestação dos mais variados serviços para umas três, quatro gerações diferentes. E que beleza de trabalhadores! Que maravilha de radialistas! Quanta gente boa! Simpatia, competência, comunicação, luta... O pessoal da Rádio MEC se equilibra nas possibilidades limitadas para as emissoras públicas com algum lamento, mas com a cabeça erguida e sorrisos estampados no rosto, destilando bom humor.
Prédio super antigo. Elevador com pantográfica e trancos entre um andar e outro. Os instrumentos sucateados, os móveis velhos, a construção gritando por reformas. Um complexo vertical, distribuído em 6 andares. 75 anos de vida, de histórias, de dial, de músicas, de sobrevivência. 75 anos de prestação dos mais variados serviços para umas três, quatro gerações diferentes. E que beleza de trabalhadores! Que maravilha de radialistas! Quanta gente boa! Simpatia, competência, comunicação, luta... O pessoal da Rádio MEC se equilibra nas possibilidades limitadas para as emissoras públicas com algum lamento, mas com a cabeça erguida e sorrisos estampados no rosto, destilando bom humor.
E a grade de programação? A FM se dedica ao
repertório erudito. A sintonia é uma grande sala de concerto. Ha raríssimas exceções
como para o jazz e o choro e atualização de notícias em boletins rapidinhos de
hora em hora. A AM tem repertório variado, transita pela boa música popular em
seus diversos estilos.
A MEC é um dos braços da EBC. Tem outras irmãs: Rádio Nacional do Rio de Janeiro AM, Rádio Nacional do Rio de Janeiro FM, Rádio Nacional de Brasília, Rádio Nacional do Alto Solimões, Rádio Nacional do Amazonas e MEC AM de Brasília – todas giram independentes, mas unidas pelo laço EBC.
A MEC é um dos braços da EBC. Tem outras irmãs: Rádio Nacional do Rio de Janeiro AM, Rádio Nacional do Rio de Janeiro FM, Rádio Nacional de Brasília, Rádio Nacional do Alto Solimões, Rádio Nacional do Amazonas e MEC AM de Brasília – todas giram independentes, mas unidas pelo laço EBC.
Eu, e-Paraná, e Guilhon, EBC, conversamos
muito, trocamos informações, discutimos papeis, levantamos possibilidades,
relembramos casos e, por fim, combinamos parceria com intercâmbio entre as
instituições. Então, daqui a pouco, o que fazemos aqui, aparecerá lá e o que
fazem lá passeará por aqui.
Minha alma canta
Fome, muita fome. O Jaime e a Nair
enfrentaram um trânsito pesado me pegaram na MEC, subiram e desceram ladeiras
de Santa Teresa, revelaram paisagens, podaram ônibus, cruzaram ruas e desembocaram
na Atlântica. Fomos almoçar lá no sensacional La Fiorentina. A comida? Muy
rica! O ambiente? Simple et elegant! Os vizinhos de mesa? Very discrete! Mas o melhor de tudo, o bolo inteirinho de uma única cereja
(porque minha lógica é ao contrario da expressão), o bom mesmo, foi a companhia
e a conversa da Nair e do Jaime – cantora e instrumentista, entre outras muitas
coisas.
O dia foi fechado com chave de ouro. E é muito bom pensar nisso, já que ele não fugirá, não mudará, não escapará. Ficará lá, trancadinho no meu passado, acomodado no meio de tanta coisa bacana, sobrevivente na minha memória com as portas abertas da MEC, os cumprimentos do chef do Fiorentina e o arremate da Nair e do Jaime.
O dia foi fechado com chave de ouro. E é muito bom pensar nisso, já que ele não fugirá, não mudará, não escapará. Ficará lá, trancadinho no meu passado, acomodado no meio de tanta coisa bacana, sobrevivente na minha memória com as portas abertas da MEC, os cumprimentos do chef do Fiorentina e o arremate da Nair e do Jaime.
O Rio de Janeiro continua lindo!
Aquele abraço!
Acho o rio muito show mesmo... já fiz a maioria dos passeios bem turistas como pegar o bondinho no pão de açucar, subir até o Cristo, pular de asa delta da pedra da gavea, ir na quadra de escola de samba, piquinique na flortesta lá na vista chinesa e mesa do imperador e bla bla bla, mas o meu lugar favorito ainda é o Jardim Botanico, se eles permitissem eu me mudaria pra la com a minha barraca e não saia mais.
ResponderExcluirDiversão pura o seu texto, parece até um episódio do Seinfeld em um mundo paralelo com aquela zica do taxi.
JOPZ
eu também adoro o jardim botânico... morria de orgulho quando o tom jobim precisava dar alguma entrevista e marcava lá.
Excluirqueria morar em santa teresa ou na urca.
a verdade é que não existe cidade mais linda... e olhe que eu sei bem tudo que eu odeio no rio, coisas que detesto tanto que já me fizeram recusar duas possibilidades de mudanças pra lá.
dessa vez não deu tempo, porque estava trabalhando, mas sempre faço questão absoluta de vestir a camisa florida, pendurar a máquina fotográfica no pescoço e me mandar em todos os passeios manjadérrimos.
obrigada pela visita!
;)