Como quem torce sozinha, sentei, puxei a
ponta do cachecol perto da boca e cravei os olhos na TV. Primeiro hino, segundo
hino, fotografia oficial e a mão da anfitriã esticou taça de vinho.
A bola rolou enquanto eu ainda sentia o
coração pulsando na veia do pescoço. Primeiro gole, cabernet sauvignon, e a
piada que acusava o humor do dia – era o Chile o adversário.
Nem soube fazer graça, não pude devolver a
gentileza. Os nervos estavam tão dedicados que até parecia que o assunto era
sério, imprescindível.
Fui convidada para participar da festa da
Copa da casa da Rose. Eu não vi direito, mas acho que ela montou um menu para
todas as preferências: caldinho de feijão, nhoque, rondeli, frango, torradas,
patês, rúcula, palmito, amendoins, azeitonas, torta, sorvete, outra torta,
outro sorvete... Ah! E como a Rose nos trata bem, um mimo aqui, um paparico
ali, uma risadinha acolá, completa-se a taça, declara silêncio em respeito aos
bobos, como eu, que insistem num xiiii enquanto os amigos conversam.
A Rose sabe bem que quando alguém está
entregue à emoção, sem capacidade de raciocínio, o melhor é fazer de conta que
aquilo é normal e seguir com suas habilidades curativas, completa-se a taça.
O jogo passou por nós como um caminhão esmaga
um tênis velho no meio do asfalto.
Lá pelas tantas descobri que em nossa plateia
havia um alemão, que tinha família chilena e logo declarou sua preferência. Chi
chi chi, le le le. Me agarrei com mais força aos amuletos, perder seria ruim,
perder na frente dele, a humilhação total.
Só saí desse pensamento mesquinho quando o
telefone da casa tocou. (Quem liga na hora do jogo, naquela hora de um a um e
tudo indo pelo ralo?). Incentivado, o alemão atendeu o telefone e me deu aula
de bom humor. Narrou em seu espanhol sotaqueado o jogo que gostaria de estar
assistindo “Hola. Estamos todos muy nerviosos. El juego es tensa y la
televisión brasileña no muestra la verdad! Ahora, Chile gana por 4-1. Nación
chilena celebra y se divierte, pero la prensa brasileña manipula el resultado. Herzlichen
Glückwunsch an Chile!”. Do outro lado da linha, silêncio absoluto. Não sabemos
até agora quem recebeu notícia tão inédita.
A Rose abriu outra garrafa.
Quando
chegamos aos pênaltis, nervos em frangalhos, Lila, a cachorrinha, passeava de
colo em colo, sabia que tinha efeito calmante e se estabelecia por minuto e
meio com quem que lhe parecia mais descontrolado.
Pensei
em nosso goleiro. João Debs me tranquilizou: “Calma, a Cesar o que é de Cesar”.
O jogo acabou em abraços, comemorações e
planos. A chuva caiu firme lá fora e chegou-se à conclusão que depois de secar
os chilenos, era hora de caipirinha.
foto de Albari Rosa / Gazeta do Povo |
Adorei...
ResponderExcluireu adorei assistir na sua casa. e me desculpo pela quantidade de palavrões por segundo que disparei...
Excluirbeijo