Sou dada a sensibilidades. Choro por tudo e
por nada. Rio, gargalho, fico braba, me destempero. Há qualquer coisa em mim
que me fez eternamente emocionada. Quatro décadas depois, já nem tento domar
nada.
Entretanto, tenho consciência dos momentos.
Não sou doida histérica, incapaz de sangue frio em situações que exigem pés no
chão. Por muitas vezes, engoli em seco, levantei cabeça e tratei da realidade.
Acho que é assim que se faz. No momento
crítico, na hora H, todas as faculdades em ordem; no cotidiano, no tanto-faz,
espontaneidade de passarinho.
Isso dito, tratemos de futebol.
Há três coisas me incomodando demais nos
últimos dias.
A primeira, a chatérrima crítica
politicamente correta sobre a vaia da torcida ao hino do Chile. Olha só, o
futebol não é baile de debutante. A torcida não vai até lá para o chá com
torradas. Os adversários não são convidados especiais em festa de gala. Vaiar
faz parte do papel da torcida. A vaia foi a sinopse de “aqui vocês não têm vez,
esse é nosso território e aguentamos com respeito a execução do seu hino,
qualquer canto à capela que vocês provoquem, rebateremos com vaias.”. Ora
bolas! E esses anos todos a falar das mães dos juízes? E as composições e
paródias que as torcidas criam para azucrinar clube adversário? E tudo que
rola, que sempre rolou, em todas as arquibancadas do mundo até aqui terá que
ser banido também, encaixando-se no chavão falta de educação?
A segunda é a atuação da torcida nos 90
minutos e nos outros. Também me chateia o silêncio das arquibancadas, me dá
tristeza não termos músicas, não formarmos coro durante o tempo todo. Mas, cá
pra nós, ao observar vários amigos brasileiros em frente às TVs e palpitando
por aí, percebi que a torcida de casa é exatamente igual ao do campo. Dois
minutos depois do início da partida, já está praguejando o time, apontando os
defeitos e profetizando o merecido fim. Quem reclama em casa, provavelmente se
comportaria igualmente na arquibancada. Que inveja da torcida argentina!
E a terceira, o fim da picada, foi o
desabamento dos nossos jogadores na hora dos pênaltis. Li nos periódicos “É uma
pressão muito grande jogar em casa” / “Minhas pernas tremiam” / “Só minha
família sabe o que passei até aqui”. Pô! Copa do Mundo é, deveria ser, lugar
onde os fracos não têm vez. É preciso tudo de técnica e também de força moral
para encarar o campo, para vestir a camisa, para engolir o choro e tratar da
responsabilidade com dignidade. Depois, só depois, com a situação resolvida, a
explosão de emoção. Caso contrário, de profissionais passam a amadores no tempo
do soar de um apito.
Capitão que desaba, se isola e prefere não
chamar para si a responsabilidade não é capitão. É menino que ainda precisa
correr mundo, correr perigo para sacar a importância de ter pulso firme e auto-controle.
Imagino que eles pensem assim (os jogadores chorões): to ganhando uma grana preta e tenho que mostrar serviço; to diante de uma torcida de 200 milhões e tenho que mostrar serviço; sou herdeiro de uma seleção pentacampeã, tenho que mostrar serviço; são milhares de marias-chuteiras nas arquibancadas e tenho que mostrar serviço...Não é mole não, torcida brasileira....
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