Todo ano, 8 de março, eu recebo um vasinho de
flores com o cartão “Feliz dia da mulher!”. Tem exclamação, é pontual na data,
a letra muda, mas nunca tem assinatura.
Não é coisa super rara eu ganhar flores. Gosto,
todo mundo sabe que gosto e por isso vez ou outra um buquê pinta por aqui, a
colorir os cantos, alegrar a casa e perfumar a alma. É incomum não ter
remetente, mas já passei por isso.
Mas, francamente, eu acho de um mau gosto espalhafatoso
ganhar flores 8 de março. Eu que não sou machista nem feminista, eu que não sou
nada, que não carrego bandeiras e que vou vivendo a vida assim, todos os dias,
nas batalhas habituais, não consigo compreender o motivo para que haja um dia
para comemorar a sorte de ser mulher. Se eu tivesse escolhido isso, ainda vá
lá, mas assim, coisa espontânea, sem pensar, não faz o menor sentido.
Eu nasci mulher. Pra minha sorte nasci
mulher! Gosto e afirmo minha mulheridade e feminilidade munida pela naturalidade
de ser do sexo feminino. Não entrei na fila para ter menos pelos, para
menstruar, para ter seios, para ter útero. Não foi opção minha, mas tive a
ventura de que o X do meu pai encontrou o X da minha mãe bem na minha hora e me
fizeram assim.
Mas sou mais que mulher, sou gente, sou eu.
Tenho cá, como todo mundo tem, as minhas
coisas, meus casos particulares a favor e contra. Vou, como todo mundo vai,
todos os dias à luta. Colho, como todo mundo colhe, o que planto.
O meu sucesso ou o meu infortúnio não vem do
fato de estar nessa pele, não acho que a vida seria mais fácil se tivesse
nascido Y.
A grande coisa pra mim, a que me faz crer que
mereço ganhar cores e perfumes é o que sou e aprendi a ser durante a vida:
inteligente, do bem, bacana, solidária... Quando ganho um vasinho no 8 de março
tudo escorre pelo ralo e o remetente secreto está a me dizer que nada disso
importa, ele me conta em cartão exclamado que se eu fosse uma pilantra, ladra,
mentirosa, trapaceira, ainda assim, ganharia flores, só porque sou mulher.
Ah! A luta por direitos? Sim, por direitos
humanos, por respeito particular, por reverência a qualidade de gente, por saudação
a condição civilizada que vivemos ou deveríamos viver.
Nada, além disso, importa pra mim. Então, um
favor para não provocar quem veste cor de rosa choque mas sabe que isso não
interessa: esqueça do 8 de março, esqueça da mulher, esqueça de mim. Pense em
todos os dias do ano, com respeito ao próximo e a admiração pelas
particularidades de cada um.
Genial!!!!! E eu te aplaudo de pé!
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