Há meses procuro uma cadeira para acomodar o
esqueleto com conforto e sem colecionar os prejuízos de horas na frente do
computador. Faço meticuloso test-drive em todas: altura, coluna, pernas,
braços, boniteza, cor, estado, história.
Encontrei na minha memória o modelo ideal,
coisa antiga, do tempo que meu pai tratava de suas lições do Colégio Estadual.
Madeira, pés fixos, assento arredondado e parte de trás com leve curva para
pegar as costas de leste a oeste. Objeto da Cimo, a velha e boa Cimo que
começou em Rio Negrinho em 1913 e veio falir aqui em Curitiba em 1982.
Escolher o modelo é um tormento a menos num
mundo em que há milhares de variações. Mas é início de outro. Não é fácil
encontrar uma Cimo em bom estado e num preço razoável. Como a questão envolve
saúde e estética da casa, larguei mão de pensar em valor e me joguei na busca.
Hoje recebi informação do Mercado das Pulgas
que o que eu queria estava lá. Coloquei meus apetrechos de escafandrista,
carreguei as armas, ergui as mangas, tomei os anti-histamínicos e fui à causa.
Para minha sorte encontrei mais, não uma, mas
quatro belezinhas. Três do jeito que eu havia decidido e uma melhor, muito
melhor: giratória, com descanso de braço, encosto pros lados e também de norte
a sul. Fiquei louca e queria já montar jogo para sala de jantar, acomodar a
família, as visitas, o cão... pensei em fazer coleção, ajustar a casa em museu
interativo onde os visitantes aproveitam os objetos.
A realidade veio galopante no código dos
preços. Eu precisava escolher uma. Deixei a compra para segunda-feira e voltei
pra casa com a cabeça a ferver em contas. E no caminho a dúvida: quais bumbuns
ocuparam a minha giratória? As pessoas que se sentaram ali, fizeram o que?
Leram? Escreveram? Traçaram planos? Criaram guerras? Desenharam? Colocaram
almofada para servir de cama ao gato velho chamado Mitchuca? Por onde andou
minha cadeira?
Na ciranda da história os objetos são a
testemunha ocular. Eles presenciaram, como criados mudos, todas as modificações
da vida privada, as trocas de costumes, brigas, reconciliações, projetos de
invasão. Crianças cresceram, adolesceram, casaram, se multiplicaram diante das
coisas nossas de cada dia.
Por que será que mesmo assim quando estava
chegando em casa vi, apoiado em poste, a derramar lágrimas de ser desprezado,
um sofá abandonado a esperar por adoção? É muito desapego pro meu gosto!
Ei, vizinho, recolha o seu sofá, não o transforme em entulho de calçada, arrume
um lar para ele continuar seu trabalho.
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