Comecei a achar que essa tristeza que não
passa é meu estado natural. Talvez a minha linha-mestra seja essa, uma eterna
lágrima que se precipita mas não cai.
As variantes em torno disso, momentos de
alegria suprema e de sofrimento desesperante, são os temperos que me tiram da
pasmaceira do cinza.
Os dias vão passando e eu as vezes me
revolto. Para vingar solto gargalhadas, danço, bebo, como chocolate, brinco com
o cachorro, observo os filhos, ouço o bumbo da Mangueira, tomo banho quente.
Como desforra, o reconhecimento dos pequenos prazeres que chacoalham a alma e
declaram amor à vida.
Teve um tempo que eu achei que deveria
atingir felicidade plácida como modus
operandi. Obrigação impossível. Larguei mão e enfileirei os dias para poder
observar melhor o que poderia viver em cada um. Me fiz assim, um dia de cada
vez. Só hoje.
Sem projeções, sem lamentos, sem grandes
perspectivas. O que tenho para hoje é o grande material para a vida inteira.
Tudo resumido no presente do indicativo.
A ventania do futuro ainda me castiga. Vez ou
outra me pego pensando sobre o dia de amanhã, os sonhos, a sobrevivência, a
aposentadoria, a pousada em Antonina. Faço esforço para a distração desses
pensamentos. Choro, mordo os lábios.
Tenho pena de deixar as ilusões trancadas. E
me assusto quando penso que virei pessoa sem devaneios, sem fantasias, sem
planos: mendiga a recolher farelos da existência.
Percorro os caminhos internos e descubro lá
atrás que tudo isso é medo da decepção. É fraqueza de não querer lidar com o
adverso. Anemia no caráter para o desgosto.
De alguma forma, essa fragilidade me coloca
de pé para combater os desenganos ao mesmo tempo que os coleciono.
Procuro não exercitar a queixa e me atirar de
verdade em tudo que tenho, que não é pouco. Sem garantias, vivo hoje.
Amanhã? Não sei. Amanhã é terça-feira e tudo
pode mudar.
Leio seu texto e me petgunto se esse estado de espírito é 100% do tempo de sua vida e aí não consigo entender como pode flertar com as estrelas? São tantas incertezas, mas a maternidade é real. Sou parecido um pouco com você mas sou alienado, vivo num mundo irreal que não entendo.
ResponderExcluirGuaraci, é um pouco de tudo... um pouco do muito... nunca igual, nunca uma coisa só
Excluirmais ou menos assim:
https://www.youtube.com/watch?v=uckmYhTfYvQ
;-)