Tenho vontade de costurar imensa manta.
Daquelas feitas a partir de retalhos, dos
pedacinhos que não servem sozinhos para nada, mas que são imprescindíveis no
espaço aberto.
Eu, costureira imaginária, me aventurando
nessa empreitada, cada pedaço teria uma cor, uma forma, um tamanho. Cada pedacinho
seria único e não se repetiria, mas se multiplicaria no amiguinho do lado.
Meu quebra-cabeça seria costurado milímetro
por milímetro, nó por nó, com fio resistente, nem faca Ginsu separaria.
As frações mais sem graça e longe da beleza
teriam que ficar no meio, bem no meio, como se ocupassem lugar de destaque.
Acho que começaria por elas e em volta, bordaria as outras, as mais bonitas.
Só para que no final, depois de todos os
retalhos de mãos dadas, pudesse concluir que a beleza serve como profilaxia,
que ela contamina tudo que está em volta, que não há fragmento mal-parecido que
resista.
Minha colcha seria sempre, sempre, sempre quarada
em campo de lavanda, em dia de sol azul e noite cheia. Seu perfume se
derramaria em mim toda segunda-feira como brisa de Debussy, para renovar meus
votos.
Essa seria a colcha que estenderia em minha cama para as noites de frio, as manhãs
de clareza e os sonhos de todas as horas e naturezas.
Acho que o amor é tipo uma colcha de retalhos...
Costureira, eu?
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