A vontade de retroceder três quilos na
balança me colocou a fazer regime. A necessidade de endurecer um pouco a
musculatura me levou à academia.
O regime parece um primo chato; todo
certinho, orgulho da família, notas boas, educação primorosa, um tanto sádico e
dedo duro. Tem prazer em ficar testando a minha força de vontade, quer, de toda
forma, me provar fraca, pouco confiável, incapaz.
Não sei da onde ele adquiriu poderes
supremos, entra na minha cabeça e me provoca. Pego uma maçã e estou prestes a
rasgar-lhe a carne, ele me sopra com voz de diabinho, tem chocolate no armário. Abro a geladeira e enquanto deslizo até a
gavetinha da alface e seus amigos, ele joga bem na minha cara o pudim brilhante
e dourado. E se digo não à suculenta macarronada do restaurante, quer me
convencer de que só hoje não faz mal.
A academia é tia chata, barulhenta e sem
graça. Verruga no nariz, bruxa má. Tem o canto da sereia ao contrário, com
música repugnante e amizades pouco convidativas.
Haviam me avisado, não olhe diretamente nos olhos dela. Ingênua, encarei. Toda a sua
anti-sedução tomou conta de mim e ela rogou praga pior que de madrinha: não
durmo bem nas noites de domingos, terças e quintas, porque ela me espera
segundas, quartas e sextas. Amanheço exausta, sem poder trocar a cama pela dita.
Depois, ela sapateia, gargalha seus poderes de feiticeira e me joga o boleto bancário para que eu veja mensalidade que paguei sem gastar.
Dia desses resolvi enganá-la. Me achando
espertinha levei de presente um pacotinho com músicas. Todas vibrantes, interessantes,
fina-flor para os esqueletos dançantes. Riu-se, se fechou para o novo e me humilhou,
isso não serve.
Caí, bati três vezes na lona, pedi pizza e cantarolei
com Cole Porter. Achei que o assunto estava encerrado, havia assumido minha
fraqueza. Foi aí que a dupla regime-academia chamou reforços para tripudiar:
saio do banho e o espelho se mete na minha frente.
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