Desliguei o computador, enfiei meia dúzia de
roupas na mala, tranquei as portas da memória e saí de férias.
O que eu queria? Olhar para o mundo sem
carregar lembrança, peso ou obrigação. O que eu consegui? Pouca coisa até agora.
Capítulo 1: Lembrança
Cheguei ao aeroporto confiante. Na fila do
check-in senti o indicador nas minhas costas, Adriana, quanto tempo!. Era a minha primeira recordação do passado.
Amiga de infância. Puxou papo e na serpente de malas tratou de me resumir três
décadas de vida. Depois rememorou tudo que lembrava, e acho que também o
que inventava.
Capítulo 2: Peso
Na sala de embarque, sem possibilidade de me
concentrar em leitura, passatempo ou meditação, tive ideia esdrúxula. Entrei no
free-shop e fiz compras. A cabeça criativa, mas pouco prática, fabricou de surpreender com taças e champanhe quem me esperava. Burrice. Achei divertido
sair do avião com a comemoração em punho, festejando a hospitalidade. Quando a
mocinha do caixa me entregou o pacote, senti a dificuldade, como seria chato
arrastar sacola pesada pelas próximas horas.
Capítulo 3: Obrigação
Para cuidar do tempo que ainda restava, tratei de me
enfiar num canto do aeroporto longe de qualquer tipo de papo ou distração. E
daí que o relógio demorasse mais? Melhor ficar resguardada de encrencas. Pois veio até mim senhora humilde, frágil, assustada. Pediu
informações. Pesquisei o painel e respondi. Me disse que precisava ir ao
banheiro e falou sobre o incômodo das duas bolsas. Agarrei minha mala, minha
bolsa, minha sacola pesada, as bolsas dela, a conduzi ao banheiro, esperei paciente e atravessei corredores
apinhados de gente para deixá-la, sem equívocos, em seu portão.
Agora, dentro da nave. Estou sentada na janela,
não é exatamente olhar para o mundo, mas até aqui, é a parte que se salva dos
meus planos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário