sexta-feira, 29 de agosto de 2014
mon coeur qui bat
dois dias antes de viajar, caí na pracinha em frente de casa e torci o pé. o outro. o primeiro é todo errado desde os meus 15 anos, volta e meia dá sinais de suas mágoas e revolta-se em inchaços, bobeiras e dorzinhas.
agora, o esquerdo inventou que tem o mesmo direito e depois de um tempo de marcha, ele me cochicha na orelha que quer ficar quietinho, que gosta de se espichar pra cima, que, se quiser, pode gritar mais que o outro.
mesmo assim não me entrego. caminho horas, quilômetros. caminho há dias. caminho sem trégua. caminho mil léguas...
e nessa loucura desenfreada, nessa maluquice descabida é que tudo acontece. o meu movimento é o lugar onde tudo acontece.
enfrento os quilômetros do mundo com a cabeça tão livre e o olhar tão atento pro lado de fora, que sobra espaço para que meus pensamentos e sentimentos se ajeitem - placas em baixo da terra que provocam terremotos para as calmarias futuras.
é bom assim, eu gosto.
quem diria que seria dentro do D'Orsay, o museu mais encantador do mundo, que me cairia a ficha sobre pendenga tão antiga que eu já nem pensava mais?
ou que ao percorrer campos elísios e reparar tanta variedade, eu iria chegar à conclusão tão óbvia e bonita sobre minha vida?
ou, ainda, quem diria, quem diria que enquanto a maravilhosa arquitetura do sete passeava em volta de mim, eu teria ideia tão bacana?
assim, entre um arrondissement e outro, é que acontece o paradoxo mais sensacional: a alma se infla com o novo, a cabeça ferve de ideias, as retinas se carimbam com imagens, a cabeça ganha outras informações, há conhecimento se formando. e também, acontece a ressurreição e morte definitiva de antigos assuntos, o assentamento de problemas, a solução de causas e coisas, vai para o lixo o que não serve.
mas tudo assim, tipo bossa nova, muito natural.
acho que é por isso que nem ligo, não dou ouvidos aos pés e por mais que reclamem, que digam, que pensem, que falem... deixo pra lá e sigo firme na caminhada.
afinal, não fosse por tudo isso, estou em Paris, quem resiste caminhar por aqui?
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