“A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece
sempre no presente”
(Rubem Alves)
Aprendi muitas coisas com Rubem Alves.
Nos livros, nos encontros, nas conversas.
Aprendi em seus olhares, suspiros e silêncios. Aprendi sobre educação e
deseducação de crianças, sobre cabeças adultas, sobre a velhice, sobre a
aproximação da morte, sobre as ameaças da vida...
Ele era uma pessoa feita de bons princípios e
cheia de amor ao próximo. Homem de praticidades também: enquanto eu lhe mandava
cartas pelo correio, ele me respondia por email. Eu pedia para ele escrever um
artigo, ele sugeria gravar um vídeo. Pedi chá à tarde, quis abrir uma garrafa
de vinho.
Quando o conheci pessoalmente, fiquei
maravilhada com a sua presença. Prisma.
Vidrada, olhos parados enquanto ele
conversava e contava coisas cotidianas na roda. O tempo passando pela conversa
e eu imóvel, com atenção absoluta em suas mãos, suas maneiras, seus modos de
homem gentil e elegante. Depois de um tempo, ele foi me observando e prestando
atenção na minha atenção contou simpática historinha:
- Um tempo desses atrás, entrei no metrô e
uma moça ficou me olhando. Me enfiei na leitura do jornal dobrado, mas percebi
que ela continuava me olhando. Dei um sorriso, ela correspondeu. Me animei,
equivocado, com o flerte e me aproximei. Quando cheguei perto, ela educadamente
levantou e me ofereceu o lugar: “O senhor quer sentar?”. Você está me olhando
com os mesmos olhos que ela e eu já estou sentado...
O Rubem tinha bom humor, era rápido de
raciocínio e surpreendente em comentários. Todas as oportunidades que tive de
estar com ele foram prazerosas, encontros significativos que me enriqueceram e
sempre, sempre, sempre me acrescentaram novos pensamentos: Trem Noturno para
Lisboa, psicanálise, Vermeer, Agostinho, flores, direção perigosa, solidão e
uma infinidade de assuntos – todos bordados por seus pensamentos construídos num
misto do que aprendia nos livros e do que vivia e observava.
Há alguns anos, perguntei se tinha medo de
morrer. “Não, Adriana, tenho pena de morrer”. É uma pena mesmo!
Rubem, foi um grande prazer tê-lo conhecido!
aqui em casa, lá na casa dele e passeando em Campinas |
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