A cozinha está limpa, tem bolo a crescer no
forno, meia-luz, silêncio.
A madrugada de domingo chega aos poucos,
devagarzinho, a empurrar os ponteiros como se não houvesse tempo, não existisse
pressa e a segunda-feira fosse um horizonte distante.
Charles Trenet comanda.
Penso nesse dia que foi embora, que já
mergulhou num mar que nunca mais poderá ser navegado, que estava bem aqui, ao
alcance das mãos, e fugiu rapidinho como fugirão todos.
O que levarei dessa data, é o que melhor
representa a vida: encontros e despedidas, transitoriedade.
A casa esteve cheia. Os amigos vieram e as
risadas forraram as paredes. Queridos, que eu não via há muito, desabaram nesse
sábado lindo como a palavra azul para proporcionar a amizade e mostrar porque a
vida vale todas as penas.
As antigas novidades, as surpresas, as
incertezas do caminho, as bobeiras, os silêncios, as diferenças, as igualdades.
A multiplicidade e a unidade em casa!
Encontro.
Lá pelas tantas soube que Rubem Alves foi embora. Não quis me afundar no assunto para não dar ares de luto à conversa,
mas a espada me atravessou.
Despedida.
Nessa noite de solidão e calmaria, de
desfechos de histórias vou, de novo, mais uma vez, repetidamente, novamente,
tomando consciência do cais que é nossa experiência por aqui.
Enquanto isso, o bolo cresce no forno, há
tiros em Gaza, ondas quebram no Pacífico, dois amantes dormem sozinhos e um
taxi espera no ponto. Gira o sistema solar.
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