E não é que eu quase fiz um poema?
A pensar sobre a condição tão imperfeita da
minha existência que cisma em insistir com a escrita, passei a batucar tudo que
me vinha à cabeça. Em versos. Sem métrica.
Papo vai, papo vem, tratei das minhas
vontades. De praia, de sol, de casa, de sossego, de amor.
Falei também de passarinhos, varanda, viagem.
Sonhei bem alto com nuvens em terra firme e
joguei os braços pros lados para abraçar o tudo.
O tempo correu pelo papel e fui surpreendida
com as vontades do corpo. Sem censura. Sem rima. Transformei os desassossegos
em palavras e me cobri com as flores da febre. Apareceram termos como saliva,
pele, gostos, lânguidos e outros que nem ouso mais.
Um pouco mais de esforço e lá estava, diante
de mim, meus desejos de agora e de depois, de antes e do futuro – que são só os
desejos do presente. Tudo se espalhando em versos como testemunha de mim mesma.
Fiquei surpresa com o resultado.
Cadê? Piquei, porque prefiro
continuar na prosa; não posso me dar ao desfrute de achar que escrevo poesia - no bucho do analfabeto, letras de macarrão fazem poema concreto.
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