Caí da cama, pulei cedo, porque a vida é
curta e eu enfrento o frio. Percorrerei o dia inteiro que se apresenta com
dignidade, com euforia de espírito e boa vontade com meus semelhantes.
Só por hoje tentarei não fazer bobagens.
E nesse dia, que começou tão antes, hei de
trabalhar a terra, enxada nas mãos,
colheita de ontem, semeadura de amanhã.
É possível que hoje eu receba uma carta com
belas notícias, que eu adivinhe os seis números da loteria, que eu toque o
tambor da paz, que eu invente uma história, que eu termine um livro, que eu
saiba do futebol.
Não esperarei por nada, farei de hoje, do dia
de hoje, o meu último e o primeiro. Bordarei as notícias no diário para quando
eu já tiver saído de suas linhas tê-lo como sensível memória de um tempo que não
ficou perdido na premiação dos calendários.
Só por hoje iniciarei as atividades nas horas
incertas de cada vontade e me vestirei de gala para o jantar solitário de pão e
vinho.
Não usarei as pérolas de sempre e subirei em
salto para escapar do abismo.
Hoje desviarei das manchetes que maltratam as
esperanças e ouvirei uma música nova para aprender seu enredo.
Fecharei os olhos a cada hora cheia e
comemorarei em réveillon o novo instante.
Pensarei com gratidão sobre as boas pessoas
que passaram por minha vida e arquitetarei plano para manter por perto as que
me são caras.
Hoje, só por hoje, procurarei pelas flores que gostam do beijo do sol.
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