domingo, 27 de janeiro de 2013

cara carla


Carla querida,

Você, mais do que eu, sabe bem que a vida dá voltas, que o mundo gira, que a roda anda... 

Você, mais do que eu, conhece os caminhos da mudança, da troca, das novas possibilidades...

Você têm grandes asas, voa para outras paragens, aceita desafios, se joga. Troca de roupa, de endereço, de trabalho, de vida. Tem a coragem dos mergulhadores e a sensibilidade de enxergar nas profundezas.

Que essa sua nova vida seja cheia de grandes descobertas, não só as profissionais, mas as pessoais, aquelas que dão novo sentido aos pensamentos, que fazem a gente olhar no espelho e entender um pouco mais desse complexo todo. 

Esse tempo que passamos juntas foi muito bacana, apesar das suas maluquices, apesar das minhas maluquices. Que bom foi tê-la em minha casa a ouvir minhas lamúrias, a beber vinho, a estourar mini-champagne, a discutir posturas, a planejar futuro...

Que delícia vê-la sentadinha no auditório do programa de rádio se divertindo e depois reclamando do espaço...

Que privilégio dividir almoço, jantar, cerveja, histórias, mau humor, bom humor...

Tomara que o reencontro não demore!

Boa sorte, Neguinha!

olhos molhados e narizes vermelhos - nós somos duas molengas mesmo!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

grande experiência!


Eu precisava comprar uma cadeira. Coisa simples, sem estofamento, sem cor, sem truques, sem voltas. Cadeira daquele tipo que antigamente se usava de par com as maravilhosas e úteis e belas escrivaninhas. 

Pois bem, sem grana e com a tarefa a ser vencida, fui ao centro velho ali pelas imediações do Paço da Liberdade: comércio super popular, brechós, bares, biroscas, putas. 

O carro? No estacionamento. E lá aconteceu a primeira surpresa do dia, big surprise, como diria N Pessoa. O carro que estava na minha frente era um desses de oito metros de altura, utilitário importado, super chique e poderoso; quando embicado o manobrista fez sinal que não, ordenou meia-volta e fechou a cara. Pensei que o lugar estivesse lotado, mas ele me acenou para entrar e fiz a manobra. Na placa dizia: “apenas carros pequenos e médios” e uma liçãozinha de moral implícita sobre os novos ricos que entopem as ruas da cidade com suas jamantas. Fui ao delírio!

A andar apressada, ocupando meu horário de almoço, na ida achei ter ouvido, numa dessas lojas populares, numa dessas caixas de som de lojas populares, a guitarra de um amigo, do Maurílio Ribeiro. Tem gente que ouve vozes, eu as vezes ouço música - e como isso é relativamente comum comigo, segui.

Escolhi cadeira, pechinchei, troquei de modelo, paguei, carreguei e voltei. 

Novamente em frente à caixa de som, ouvi “Que reste-t-il de nos amors”. Fiquei por ali, dando um tempo para matar a charada.
Quando a música acabou, entendi. Uma das ruas mais populares da cidade, numa das lojas mais populares da região, em que o forte de dia é a venda de móveis furrecas e de noite o crack, lá, no meio de tudo isso, a rádio Educativa fica ligada durante o dia, “porque o chefe da gente manda e a gente gosta”.

Carros grandes não têm vez e a música é a melhor possível. O mundo tem salvação!

97.1FM
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sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

gabarito&explicações

Como expliquei no post anterior, e no post anterior ao anterior, o que aqui eu chamo de “Qual É a Música?”, é parte de um trabalho muito bacana iniciado lá na tecnologia educacional da Positivo Informática, chamado “Pitadas de MPB”, que ficava dentro de algo maior chamado “Um Gostinho de MPB”, que ficava dentro de algo maior ainda chamado “Central de Projetos” (vou parar porque Positivo é uma empresa muito grande). 

Pois bem, o Noel Rosa ganhou destaque em 2010, por conta de seu centenário. Foi bem bacana! Estudantes do Brasil inteiro (numa quantidade menor do que gostaríamos, é claro!) conheceram o Poeta da Vila, sua biografia, músicas, pensamentos, etc, etc, etc.

No “Pitadas...” os alunos recebiam mais que as dicas. Recebiam áudios com os trechos das músicas e textos com pedacinhos de suas letras. Com todo o material na mão, eles faziam as associações necessárias para chegar ao fim da charada – o que garantia, além de diversão, certa reflexão sobre o que dizia cada letra... 

Aqui, um pouco por preguiça um pouco por incompetência, não coloquei os áudios, e achei que as estrofes facilitariam muito a vida dos barbados que freqüentam o blog...
Para o gabarito, no entanto, acho bacana inserir o trecho da letra...    




dica
trecho da letra
música e autor
1
Pessoa quer mudar sua maneira de viver porque considera que com o comportamento atual não conseguirá alcançar seus objetivos.
Eu hoje vou mudar minha conduta / Eu vou à luta, pois eu quero me aprumar / Vou tratar você na força bruta / Que é pra poder me reabilitar / Pois esta vida não está sopa...
Com que Roupa?
(Noel Rosa)

2
As considerações a respeito do gênero musical mais popular do Brasil.
Batuque é um privilégio /  Ninguém aprende samba no colégio / Sambar é chorar de alegria / É sorrir de nostalgia dentro da melodia
Feitio de Oração
(Noel Rosa e Vadico)

3
Simpatizante da Vila Izabel, bairro e escola de samba carioca, faz referência a outras escolas e critica quem não consegue entender todas as possibilidades da sua escola preferida.
Quem é você que não sabe o que diz? / Meu Deus do Céu, que palpite infeliz! /
Salve Estácio, Salgueiro, Mangueira, / Oswaldo Cruz e Matriz / Que sempre souberam muito bem / Que a Vila Não quer abafar ninguém, / Só quer mostrar que faz samba também
Palpite Infeliz
(Noel Rosa)
4
Pessoa assume que não consegue manter suas decisões, mesmo sabendo-se prejudicada com esse comportamento.
Jurei não mais amar pela décima vez / Jurei não perdoar o que ela me fez / O costume é a força que fala mais forte do que a natureza / E nos faz dar provas de fraqueza
Pela Décima Vez
(Noel Rosa)

5
Rapaz apaixonado sofre com o comportamento da amada e com as lembranças que giram em torno dela.
Quando o apito da fábrica de tecidos / Vem ferir os meus ouvidos, eu me lembro de você / Mas você anda sem dúvida bem zangada / Ou está interessada em fingir que não me vê
Três Apitos
(Noel Rosa)
6
Cliente que aparenta ter muita intimidade com atendente de estabelecimento comercial faz inúmeros pedidos.
Seu garçom, faça o favor de me trazer depressa / Uma boa média que não seja requentada / Um pão bem quente com manteiga à beça / Um guardanapo e um copo d'água bem gelada / Fecha a porta da direita com muito cuidado
Que não estou disposto a ficar exposto ao sol / Vá perguntar ao seu freguês do lado / Qual foi o resultado do futebol
Conversa de Botequim
(Noel Rosa e Vadico)
7
Após reflexões sobre a melhor maneira de conduzir a vida, pessoa chega a uma conclusão que a protege dos comentários alheios.
Mas a filosofia hoje me auxilia / A viver indiferente assim / Nesta prontidão sem fim / Vou fingindo que sou rico / Pra ninguém zombar de mim
Filosofia
(Noel Rosa e André Filho)
8
Pessoa que quando alterada apresenta dificuldade de articulação, repetindo sílabas das palavras ao falar.
Mu... mu... mulher, em mim / fi... zeste um estrago
Eu de nervoso esto... tou
fi... ficando gago / Não po... posso com a     cru... crueldade / Da saudade, Que... que mal... maldade /
Vi... vivo sem afago
Gago Apaixonado
(Noel Rosa)
9
História de amor e desencontro entre personagens da Commedia dell’Arte (Itália, século XVI) que se tornaram comuns nos bailes de carnaval do Brasil.
Um pierrô apaixonado / Que vivia só cantando / Por causa de uma colombina / Acabou chorando, acabou chorando
Pierrô Apaixonado
(Noel Rosa e Heitor dos Prazeres)
10
Recomendações de como as pessoas devem se comportar em sua ausência definitiva.
Quando eu morrer, não quero choro nem vela / Quero uma fita amarela gravada com o nome dela / Se existe alma, se há outra encarnação / Eu queria que a mulata sapateasse no meu caixão
Fita Amarela
(Noel Rosa)

Muita saudade de fazer esse trabalho!


quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

qual é a música?


Pra quem não viu o primeiro “qual é a música?” que postei aqui, segue novamente o texto, com novo desafio.

O pessoal da tecnologia educacional, da Positivo Informática, há alguns anos começou um trabalho bem bacana que envolve MPB e crianças... Aprendi com eles um exercício muito legal, se não me engano foi o Eduardo e o Luca que inventaram no primeiro ano de projeto, e depois eu segui na esteira...
Simples assim: um texto e você adivinha qual é a música.

Quem consegue?

1. Pessoa quer mudar sua maneira de viver porque considera que com o comportamento atual não conseguirá alcançar seus objetivos.
2. As considerações a respeito do gênero musical mais popular do Brasil.
3. Simpatizante da Vila Izabel, bairro e escola de samba carioca, faz referência a outras escolas e critica quem não consegue entender todas as possibilidades da sua escola preferida.
4. Pessoa assume que não consegue manter suas decisões, mesmo sabendo-se prejudicada com esse comportamento.
5. Rapaz apaixonado sofre com o comportamento da amada e com as lembranças que giram em torno dela.
6. Cliente que aparenta ter muita intimidade com atendente de estabelecimento comercial faz inúmeros pedidos.
7. Após reflexões sobre a melhor maneira de conduzir a vida, pessoa chega a uma conclusão que a protege dos comentários alheios.
8. Pessoa que quando alterada apresenta dificuldade de articulação, repetindo sílabas das palavras ao falar.
9. História de amor e desencontro entre personagens da Commedia dell’Arte (Itália, século XVI) que se tornaram comuns nos bailes de carnaval do Brasil.
10. Recomendações de como as pessoas devem se comportar em sua ausência definitiva.

Uma super pista: 





quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

onde o fim da tarde é lilás


Eu conheci um lugar lindo! Pra lá de especial. Se o mundo realmente acabasse no dia 21 e eu merecesse um bom lugar para passar a eternidade, certamente ele seria igual. Às vésperas da anunciada tragédia maia eu estava lá, a pensar nisso...

Casa bem construída. Rica em detalhes. Em cores, cheiros, sabores, bebidas. Casa colorida. Sossegada. Paz reinante. Casa de gente do bem! Gente generosa, amigável, amável, hospitaleira, com boa comunicação. Gente que se mistura de um jeito tão simples a uma natureza tão rica.

A piscina é refrescante, a ducha gelada, o chuveiro super quentinho. O lago é crespo de tanto peixe. As flores, fartas. O coentro mais cheiroso. Grama verdinha, terra boa.

Há pássaros. Espécies variadas. Cachorro que não late amalucado. Sons da natureza: cigarras, pássaros, grilos, sapos e outros mais.

O mais impressionante de tudo é a quantidade de beija-flores. Não sei dizer: 30, 40, 50 todos juntos, simultâneos a beber água doce, a agitar asas, a se pintar no sol e escurecer na sombra. Colibris que não têm medo de ninguém, que fazem festa constante e que parecem gostar dos barulhinhos das câmeras.

Um lugar fantástico, do mundo da fantasia, mas bem real, pra quem se aventura por uma estrada linda, com figueiras impressionantes, eucaliptos alinhados, uma casinha ou outra e algumas plantações.

Fica no Espírito Santo, sem trocadilhos. Em Santa Teresa, idem. Nas montanhas. Sul ou norte, não sei bem.

Sei que o meu relato é inútil porque não tenho habilidade suficiente pra descrever um lugar tão cheio de detalhes que causam tanto deslumbramento.

Apesar de ser invadida por profunda mesquinharia em guardar o lugar, preservá-lo de invasões, pessoas, de não dividir os bolos quentinhos saídos do forno pela manhã, o café passado na hora, toda hora, o vinho geladinho, o silêncio; tenho um sincero desejo que minha família, meus amigos, meus caros, que todos que conheço e gosto, também visitem e desfrutem.

Um lugar que a gente nem sente os pés no chão...






As duas primeiras fotos são da Sylvia, a terceira é da mão da Sylvia...
Ela, que conhece tão bem o lugar, foi a grande alma que dividiu essa maravilha.

o que se traz do mercado...


Aprendi ainda menina que deveria ser boazinha: emprestar os brinquedos, dividir a última bolacha, doar roupas usadas, não brigar, não mentir, não responder aos mais velhos, dar a outra face... Assim tenho passado os anos. E uma culpa que não cabe no mundo me invade toda vez que cabulo, de forma acidental ou não, algum item. 
Pois hoje no mercado, na fila do caixa, estava quietinha a ler as capas das revistas de fofoca, quando um senhor parou com sua cestinha atrás de mim. Minhas compras já estavam na esteira, todas separadas, organizadas por grau de aproximação dos armários da minha casa. O senhor parecia frágil e apesar  do mercado oferecer aquele local preferencial para atendimento, ele estava ali. Pensei que talvez ele não tivesse prestado atenção e fiquei constrangida de informá-lo, apenas abri passagem:
- O senhor quer passar na minha frente? 
- Por quê?
Ele me perguntou de um jeito muito ríspido, me chocou. Seria uma ofensa concluir que ele era mais velho, que aparentava frágil, que é mais difícil pra ele que pra mim ficar em pé na eterna espera do caixa? Constrangida, inventei:
- Não estou com pressa.
- E eu, estou?
Não sabia como continuar a conversa e como desembaraçar a situação.
- Ok, continuemos cada um em sua posição. 
Sem falar, ele se esgueirou e passou pela minha frente, empurrou minhas compras e enfiou sua cestinha na reta de chegada. Fiquei quieta, tratei de justificar mentalmente sua atitude tão ríspida pra minha gentileza fantasiando um passado muito difícil, solitário e amargurado praquele homem.
A menina do caixa começou o processo. Ele pagou e foi embora. Sem olhar pra trás, sem agradecer, sem dar um tchauzinho, sem gentileza.
Paguei, embalei, carreguei. E quando descia a rampa para o estacionamento, quem fazia o mesmo, pé por pé, marcha lenta total, equilibrando as sacolas com o peso do corpo, agarrado ao corrimão? Sim, ele. Era notório que precisava de ajuda com as sacolas.
“A outra face, Adriana, dê a outra face...”. Dizia minha consciência inconsequente. 
- O senhor quer ajuda?
Fez um sinal de reprovação com a cabeça e me estendeu as sacolas. Quando chegamos ao final do percurso, devolvi seus pesos, sua solidão, sua amargura e segui meu caminho. Nenhuma palavra, nada. 
Conclusão: fui pro carro com a consciência pesada por ter deixado o velhinho no caminho com suas compras numa tarde chuvosa. Será que ele precisava de carona? 
Trouxe do mercado melão, pipoca, iogurte, pão, queijo e uma culpa absurda. 
Cabem tantas coisas num carrinho de supermercado...
O que será que Dr Freud diria?