sábado, 29 de setembro de 2012

livros, discos, vídeos à mancheia



Nessa semana que passou, tive a oportunidade de conhecer pessoas e projeto, projeto e pessoas, que me espantaram, encantaram e me mostraram como nem tudo está perdido nessa vida...

Um pessoal da Secretaria de Educação do Estado faz um trabalho tão admirável que acho que todo mundo tinha que conhecer, verificar, aplaudir, participar. Eu digo “um pessoal”, porque o estado é enorme e a educação super criticada o tempo todo e eu não conheço todas as áreas, realidades, etc. Conheço o que vi e vivi.

Pois como estava falando, há um grupo de trabalho (não sei a que departamento pertence porque não me ligo nesses pormenores) que inventou um programa de visitas às regionais de educação de todo estado. O lance, resumido de maneira simplista, se desenvolve assim: monta-se um grupo com expertises diferentes e complementares, que sai, meio mambembe meio oficial, por regionais previamente organizadas e combinadas para visitar escolas e levar livros e vídeos e música e poesia e histórias e computadores e capacitação para professores e oficinas para os alunos e tudo mais que couber no micro-ônibus e na cabeça dessa trupe.

O mais bacana de tudo é que não é uma passagem apenas e pronto. O que caracteriza de maneira tão especial o projeto, é o significado que fica nos pontos que são visitados, o material que é levado e deixado e as amarrações que se fazem. Estabelece-se contato, comunicação, trocas, conhecimentos mútuos que permitem continuidade para todos os lados.

É um trabalhão sem fim que faz artistas, escritores, professores, cartunistas, atores, poetas e toda a sorte de profissionais de talento e dedicados a se aventurarem por cidadezinhas que nunca tinham ouvido falar, sob a tutela desse grupo da Secretaria. E todo mundo faz isso se divertindo, sorrindo, brincando, de maneira leve, livre, solta... do jeitinho que tem que ser a educação.

Os pessimistas de plantão falarão que a educação precisa avançar muito e que essa é uma ação pontual. Eu concordo, mas acrescento que se ela se repetir em escala, alguma fração dos problemas estará no caminho da solução.

Acho que todo mundo deve saber desse trabalho! E deixe que digam, que pensem, que falem...  

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

a morgadinha de júlio dinis


Júlio Dinis é escritor da literatura portuguesa de pouca expressão no Brasil. Sabe-se lá o motivo. Em Portugal ele tem respeito e reconhecimento e busto na praça e nome de rua e recomendações e aplausos.

Meninota conheci, apesar do título maravilhoso, sem grande empolgação, “As Pupilas do Senhor Reitor” e só. Foi tudo que soube do tal do Dinis, nascido na cidade do Porto em 1839 e de lá partindo dessa pra melhor em 1871.

Mas, agora, depois de vencer as quase 500 páginas do romance “A Morgadinha dos Canaviais”, publicado lá em 1868, acabo por admirá-lo muito. Ele, apesar da época, não faz coro àqueles escritores da escola ultra-romântica, se aproxima mais e abre portas para os realistas. Ele, apesar de médico e escritor, sabia observar, criticar e relatar os cenários políticos com maneiras experientes e particulares. Ele, apesar de tão doente, não passava amarguras nos textos. Ele, apesar da pouca idade, conhecia muito dos bons sentimentos e das mesquinharias humanas. Ele, apesar da falta de registros sobre sua vida amorosa, sabia descrever tão hábil, delicada e sedutoramente as mulheres.

Não vou contar resumo do livro, porque isso seria uma simplificação injusta, que acabaria por esconder a beleza da escrita, a escolha apurada de palavras e os enredos paralelos tão bem calculados e divididos.

“A Morgadinha dos Canaviais” é um belo exemplar da literatura portuguesa do século XIX – e olhe que há grandes concorrentes por aquela época.  




Ó que amor:

Ao cair de uma tarde de dezembro, de sincero e genuíno dezembro, chuvoso, frio, açoutado do sul e sem contrafeitos sorrisos de primavera, subiam dois viandantes a encosta de um monte por a estreita e sinuosa vereda, que pretenciosamente gozava das honras de estrada, a falta de competidora, em que melhor coubessem.

O perfume da saudade é como o de certas flores, que só se percebe quando de longe o recebemos. Se, iludidos, as tentamos aspirar de perto, dissipa-se.”

O cultivo das letras latinas deve-lhe proporcionar gozos; porque enfim para quem possui instintos de arte, a leitura dos poetas já é um lenitivo contra as agruras da vida.”

Não sei como os homens se faziam entender com aquela endiabrada contradança de palavras, com aquela desafinação que faz dar volta ao juízo de uma pessoa. Sabe o senhor o que é uma casa desarranjada, onde ninguém se lembra onde tem as suas coisas quando precisa d'elas e passa o tempo todo a procurá-las? Pois é o que é o latim. Abre a gente um livro e põe-se a traduzir e vai dizendo: «As armas, o homem e eu, canto, de Troia, e primeiro, das praias.»
  
Henrique, deixado só pelo guia ao chegar ali, foi caminhando vagarosamente por esta avenida, dominado por a íntima comoção e sentimento quase de temor, que se apodera de nós, em todos os lugares a que se ligam memórias do passado.”


sábado, 22 de setembro de 2012

com uma sede de anteontem


Dizem as boas línguas que feijoada de verdade tem que ter de tudo: o porquinho completo separado: orelha, pé, rabo, lombo, costelinha, toucinho...

Eu não sou chegada às partes menos nobres, esse negócio de pé, dedo, joanete, unha e quetais não é comigo. Mas abomino o buffet com carnes separadas. Gosto de pescar na cumbuca costelinha e carne seca, paio e bacon, feijão e caldo.

Também não como arroz. Misturo tudo: couve bem picadinha e farofa, feijão e vinagrete, laranja e bacon torradinho.

O prato, sofisticadíssimo, não faz pacto com regime, não comunga com frescuras, não dá espaço à sobremesa, não combina com prataria, não pede guardanapo de pano. Feijoada come-se em prato fundo, de colher se você tiver coragem.

E vamos botar água no feijão!



sexta-feira, 21 de setembro de 2012

todo mundo é igual, mas cada um de seu jeito


A passear pelas férias europeias eu vi rios de gente. Pessoas que sobem e descem ruas; invadem lojas; lotam restaurantes; escalam pontos turísticos; atiram pipocas aos macacos; compram bugigangas; posam para fotos dando as costas para os monumentos e a história, encarando as lentes super potentes dos novos fotógrafos digitais.

Os turistas são felizes. Sorridentes. Patéticos. Bobos. Ridículos. Loucos. Sei bem, porque de quando em vez tenho a sorte de ser turista, de me descolar da vida real e ir pra outras paragens. Não nego os principais pontos de cada lugar, não entro no papinho clichê da nova geração de viajantes que diz preferir os lugares não visitados. Eu gosto de tudo. Imagine ir pro Rio de Janeiro pela primeira vez e não subir no Corcovado só porque é um ponto manjado? Ou ir a Paris e não conhecer a o Arco do Triunfo? Bobeira pura, não? Gosto de conhecer os lugares, as pessoas, as comidas, bebidas, bater longos papos, caminhar por tudo, me perder, me virar, olhar, observar, concordar, questionar, aceitar, descobrir, encontrar... Viajar é muito bacana!

Pois bem, observando a humanidade a passear no estilo “sorria, você está sendo fotografado”, fiquei impressionadíssima com os traços de cada nacionalidade e como todos os relatos desse tipo de coisa não são caricaturas, mas reflexos da real, na real.
Os italianos são muito italianos. Os espanhóis muito espanhóis. Os japoneses, caraca!, eles são muito japoneses! E assim por diante... 

Tão legal de ver!!!

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

a última flor do lácio


Fui a uma loja. Entrei. Pedi. E a vendedora:

- Dessa que você qué eu não vô tá tendo!

Pobre língua portuguesa...


quarta-feira, 5 de setembro de 2012

se eu me chamasse raimundo


Eu estive fora uns dias. A andar por aí, num pedaço tão interessante desse mundo vasto mundo... Esqueci das pendengas cotidianas e fui tratar de outras coisas, porque a vida é mais.

Lá onde estive, conheci, aprendi, encontrei e reencontrei tanta coisa boa – exatamente nessa ordem!

Passei momentos muito felizes, vivi os melhores dias da minha vida até aqui.

O interessante de viver os melhores dias da vida, é que tudo que vem depois, acaba injustamente desbotado. É injusto, porque o que vem depois não tem culpa de você já ter encontrado tanta coisa boa... o que vem depois é legal, bacana, decente, bonito, gratificante, mas não pode competir com os melhores dias da vida... a não ser que o que vem depois, consiga superar e se transforme nos melhores dias, isso sim, isso faria diferença ao que vem depois e, também, redesanharia a felicidade do passado... os melhores dias da vida, os primeiros, se transformariam em acontecimentos legais, bacanas, decentes, bonitos e gratificantes para ceder o espaço dos melhores dias da vida ao que vem depois...

Sacou?

Tim-tim!