segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

onde se junta o passado, o futuro e o presente


Toda vez que penso em mudança um calafrio me percorre. A insatisfação com a situação atual, que é o gatilho para coisa nova, começa a perder cores e ao olhar em volta, o tiro que fere mas não mata: nem tudo é ruim. Imediatamente uma cascata de pontos positivos se derrama a cobrir as possibilidades do futuro...

Jogar-se sem saber, desafiar o desconhecido, coragem no escuro são fortalezas boas na literatura, no papo de bar, no conselho para vida alheia, mas aqui dentro tenho, muitas vezes, vontade de me recolher onde conheço e sei driblar o que atrapalha.
Aí vem o conformismo que me coloca a desdobrar fibra por fibra cada coisa ruim até travesti–las de realidade aceitável.

Mas esse é papel pra mim? Não, não é! Ao recapitular a trajetória reconheço muitas viradas de mesa, saídas repentinas pela direita, pela esquerda, pela tangente...
A busca do melhor!

Com o tempo eu vim entendendo que nada é definitivo, que cada nova escolha só traz consequências mas nunca, nunca mesmo, conclusões permanentes. E a velha frase de estrada é tão batida quanto verdadeira: pegar um caminho significa abandonar outros.
Abandonarei. Deixarei para trás o que tem lugar só no passado e no fio da memória como parte da vida e do que me trouxe a esse momento.
Levarei as pedras e flores do caminho em lugares dentro de mim, transformados em aprendizado e perspectiva.

Quando a ideia de mudança se apresenta é porque já está na hora. E para esses momentos, lembro sempre do conselho do Domingos, meu grande amigo das horas de incertezas: Fecha os olhos e vai, o futuro precisa aparecer duma vez!

Eu vou!




sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

3X4 - Lina Faria


Estou a pensar em Lina, uma das pessoas mais sensíveis que já conheci.
Frágil, bela, rara feito porcelana de importante dinastia, ela carrega também o contraditório de ser tudo isso e ser mais: guerreira, forte, indestrutível, feito diamante que não se deixa riscar por nada.

Lina me deu o presente mais importante que alguém pode nesse reino de cá: o amor da amizade.
E porque ela é ela, trouxe junto com esse pote de ouro suas tão deliciosas características:
- o humor diferente, ácido, que revela sem dizer e expõe as ridicularias humanas de um jeito divertido;
- a observação do mundo à sua volta, de coisas que ela percebe porque tem os sentidos abertos e a antena sempre a funcionar em todas as sintonias;
- a revelação do humano, desde o caminhar de uma mocinha da cidade até o sono rendido de quem tem marquise como casa;
- a descortinação da cidade, porque ela sabe de nossa província e seus personagens anônimos e mais importantes que qualquer um com nome conhecido, ela sabe quem é que faz, de verdade, o mundo girar;  
- o fazer conhecer as árvores, flores, paisagens, telhados, placas, muros, faixas, monumentos, todo e qualquer fio que tece esse grande tapete em que pisamos, pisamos e pisamos todos os dias, e que muitas vezes precisamos dela para saber, para ver;
- a delicadeza de contar coisas boas sobre nós, a generosidade de aumentar nossas qualidades e a compaixão de justificar nossas baldas.

Lina, nada objetiva, cheia de conversas, de caminhos, de paixões, de olhares. Ela, que agora é avó, continua menina, parece borboleta que acaba de sair do casulo e se espanta com o mundo.

É muito bom ter a chance do convívio com alguém que não perdeu a espontaneidade do gesto e acorda com o olhar atento a tudo que para muitos se tornou trivial.
Lina não é trivial, Lina é, todos os dias, original – uma flor com mil pétalas de bem querer. 

pra quem teve a sorte de conhecê-la aos 26.

pra quem tem mais sorte e a conhece hoje.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Martyrologium Romanum



Eu comecei o ano como começo quase todos os dias: espinha ereta, cabeça a trabalhar e coração aos pulos.
Estava na cama quando o calendário virou e até já tinha dormido quando os fogos começaram. Acordei. Ouvi. Li. Respondi. Dormi.

Eu não sou fixada em datas. Nunca fui. As datas que obedeço são aquelas de prazos para entrega de trabalhos, de compromissos profissionais, de viagens de férias, de passeios, de encontros com os amigos, de festas particulares...
O que assinalo no calendário é o que muda minha vida. Não tenho dia fixo para renovar esperanças ou para refazer os planos ou para abandonar ideias inúteis. Todo dia é dia. Sexta-feira à noite é data para começar o regime, sábado à tarde é horário de reunião de trabalho e quarta pela manhã é dia para descansar na praia.

Vivo assim desde sempre. O que me livra de preocupações desnecessárias e me deixa mais na dimensão daquilo que escolho pra mim do que na marcha da boiada.
Não conheço as solidões, as vontades, os preparativos, as esperanças, as aflições, os desejos de final ou começo de ano. Não tenho as contaminações externas.
Tenho sim, e muito, as erupções internas. As verdades a estampar o espelho, a cutucar a alma, a desencadear tudo a qualquer época, a qualquer tempo.
A vida é, não se distrai por conta da data.

Respeito quem pensa diferente do que eu e prefere sonhar, planejar e executar a vida a partir da ordem gregoriana.
Mas para mim, todo dia é dia de arrependimento, de perdão, de reconciliação, de amor, de renovação. Eu acho que os sentimentos não conhecem a folhinha.

2014? Tudo bem!, vamos em frente, ano civil começando, ano interno se desenvolvendo...