segunda-feira, 27 de maio de 2013

e o pulso ainda pulsa


Poucas vezes pisei doente. Aprendi a conhecer o corpo e dar água ou chá ou gelo quando ele me conta seus sinais. Mais não sei. 

Já recorri a médico: emergências noturnas, paradas vespertinas ou convencionalidades matinais.  

Também me tratei com curandeiros, benzedeiras, feiticeiras, simpatias e bruxarias. 

Para cada tipo de ziquizira uma comidinha diferente: sopa, água e sal, purê, sorvete...

Observei algumas coisas: corpo em curto não combina com pés no chão, friagem ou agitação; aperto no peito muitas vezes é sintoma de saudade; o cotovelo só dói se provocado e nenhum entrave moral resiste a dor de dente. 

Tomei vacinas, tive caxumba, varicela e pneumonia. Tenho ciclo regular, bom fôlego e resistência impressionante.

Conheci as consequências de comer ostra estragada e de beber rum em demasia. 

Tenho coração galopante, arrítmico, apressado. Fui diagnosticada com pré-síncope, código I-49 e extrassístoles supraventriculares.

Algumas ideias passeiam pelo corpo e inspiram arrepios, dores de estômago e coceira na pele. 

O nervo ciático conversa com todas as tribos e desencadeia reação em massa. 

Faço acupuntura, tomo remédio, sou míope e conto com 254 mil incansáveis plaquetas. 

Cabeça e coração não dialogam. 

E o corpo ainda é pouco...





sábado, 18 de maio de 2013

de tarso


Sílvio, você foi um grande homem!

Cabeça rápida, memória de mil elefantes, mente aberta. Sempre uma história, uma música, um poema... Quanta coisa coube no seu coração!!!

Gatilho certeiro para piadas e para relembrar histórias engraçadíssimas. Humor refinado. 

Você sempre dizia que queria saber de vida e de alegria quando chegasse sua hora, mas não dá! Não cabe aqui, amigo. É impossível obedecer seu desejo, não há como esboçar sorriso sabendo de sua partida.

Fácil é agradecer a sorte de ter tido a graça de conviver com uma criatura como você! Isso foi um privilégio!

Sabe o que eu descobri no meio desse momento horroroso? Como o amor é concreto, palpável... dá para segurá-lo, tocá-lo, senti-lo no tato. Quando estava de mãos dadas com a Dona Iaiá, quando estava abraçada com a Tuti, enganchada no Sérgio ou passando a mão pelos cabelos da Lu, o amor corria por ali, se aconchegava em nós, esquentava o corpo. O amor por você se materializou pra nós.  

Guardarei comigo pra sempre, e assim que puder lerei em voz alta, “Os Olhos de Adriana”, meu troféu em cor jabuticaba dessa vida tão ingrata que leva os amigos da gente...

Sua voz a fazer firula, narrando jogos em espanhol e tirando onda com nossos hermanos, para sempre me alegrarão. 

As horas infinitas de conversas sobre todos os temas; a partilha dos sentimentos; os conselhos; os copos; as comidas... 

Vai ser difícil esquecer como seus pés estavam gelados, seus soluços pela vida e aquela cena final de hospital.  

Não se preocupe com a Tuti, ela faz parte da gente, ela é da nossa turma, e a amamos por ter feito parte de sua vida de maneira tão soberana, e por sabermos quem ela é. Seus irmãos têm a força moral para sustentar o mundo. E a Dona Iaiá? Essa tem a sabedoria de mil homens...

A nossa sorte é que não há morte capaz de te matar! Para sempre você ficará por aqui... 

Vai em paz, amigo. 





segunda-feira, 13 de maio de 2013

na retina

lugares de onde nunca retorno,
que moram em mim,
que insistem na memória,
que embaralham o presente,
e transbordam na vida...





















sábado, 11 de maio de 2013

ponte de riquezas

Filha, Filho,

Os acontecimentos mais importantes da minha vida têm relação direta com vocês. 
Todos os dias, todos!, eu os observo em sigilo. E vou trazendo para minha vida as lições que aprendo com vocês. O nosso amor é ponte, que leva e traz coisas. De todos tipos, todas as cores, todos os sentidos.

É privilégio dos maiores sentir o amor no grau mais alto, mais puro, mais libertador... Ter na vida um amor maior que a própria vida! As mães sentem isso.

Mas eu, eu tenho mais. Tenho vocês dois como filhos, que são pessoas muito interessantes, cada um do seu jeito, cada qual com suas especialidades. Não há sorte maior! 
Não tenho crenças, mas até chego a rezar para agradecer a beleza de ser mãe de pessoas tão bacanas. 

Braço de ouro vale dez milhões!

É impressionante como o jogo mudou e hoje eu encontro em vocês amparo, conselho, ajuda, proteção e mais uma penca de coisas que até pouco tempo era ainda via de mão única. 



Lívia, você me concede, diariamente, bom humor, inteligência, transparência, beleza, carinho. Sentidos abertos para a leveza!



Dé, todos os dias você me emociona, me alerta, me acalma, me intriga, me coloca em debates. Mente atenta para as mais profundas reflexões! 




Vocês dois são complementares - duas vidas que dão sentido e completam a minha.

Não sei o que seria se não fosse mãe. Teria mais dinheiro, mais silêncio, mais tempo. Coisas que gosto e prezo. Mas me faltaria a maior experiência que uma mulher como eu pode ter. Me faltaria sentido, amor, pensamentos. Me faltaria luta, persistência. 
Seria árvore sem galhos, sem frutos, sem flores. 

O bom disso tudo, é que não acaba. Termina na hora de recomeçar!

Vocês carimbaram minha existência com o melhor que uma pessoa pode ter. E por isso, só por isso, a vida já vale todas as penas. 

Um grande beijo com todo meu agradecimento!







segunda-feira, 6 de maio de 2013

os grilos são astros


Filha,

Você é uma criaturinha tão incrível! Eu sei que já disse isso um milhão de vezes, mas me faz feliz reparar e repetir à exaustão: se eu não fosse sua mãe, queria ser sua colega de escola, sua amiga de conversas, sua companhia de shopping, sua vizinha ou qualquer outra coisa que permitisse estar bem perto de você e para desfrutar a maravilha de humor que você tem, sua precoce sensibilidade para as coisas do mundo e seu gatilho tão rápido...

Estar perto de você e observá-la me comove e me impulsiona, me orgulha e me acalma, me alegra e dá esperanças na humanidade.
O mundo precisa mesmo de pessoas como você!

Apesar de sempre lhe falar da minha admiração, gosto de escrever aqui no blog para que você perceba o tamanho do meu amor de outra forma, quietinha, aí, no silêncio do seu quarto...

Eu adoro isso aqui, dá uma olhadinha!

Um beijo, borboletinha

o narizinho mais lindo do mundo


domingo, 5 de maio de 2013

depois melhora

música de Luiz Tatit, tão linda quanto tudo que ele faz.




Sempre que alguém
Daqui vai embora
Dói bastante
Mas depois melhora
E com o tempo
Vira um sentimento
Que nem sempre aflora
Mas que fica na memória
Depois vira um sofrimento
Que corrói tudo por dentro
Que penetra no organismo
Que devora
Mas depois também melhora
Sempre que alguém
Daqui vai embora
Dói bastante
Mas depois melhora
E com o tempo
Torna-se um tormento
Que castiga, deteriora
Feito ave predatória
Depois vira um instrumento
De martírio duro e lento
Uma queda num abismo
Que apavora
Mas depois também melhora
E vira então
Uma força inexplicável
Que deixa todo mundo
Mais amável
Um pouco é conseqüência
Da saudade
Um pouco é que voltou
A felicidade
Um pouco é que também
Já era hora
Um pouco é pra ninguém
Mais ir embora
Vira uma esperança
Cresce de um jeito
Que a gente até balança
Enfim
Às vezes dói bastante
Mas melhora
Enfim
É só felicidade
Aqui agora
É bom
É bom não falar muito
Que piora
Enfim
É só felicidade