Sou rainha das listas. Faço lista pra tudo,
dos afazeres cotidianos às roupas que irão na mala da próxima viagem. Me sinto
segura assim; a memória aprendeu a funcionar nesse modo.
A exceção mora justamente onde deveria ser
regra: mercado. Não consigo me organizar; quando abro armários e geladeira para
investigação dos ausentes, logo me distraio com o que há e vai tudo por água
abaixo... O resultado é sempre o mesmo, perco tempo, passeio por todos os
corredores, encho o carrinho de coisas e quando chego em casa percebo a
incompetência.
Já tentei várias vezes mudar esse panorama.
Parece que minha sina é mesmo ir ao mercado de dois em dois dias. Num compro
detergente, no outro guardanapo.
Para frutas e verduras prefiro o ar livre;
vou à feira e carrego comigo a mesma incapacidade.
Dia desses fui surpreendida por simpática
senhora no corredor de massas/molhos. Diante da incrível oferta de variedades
de marcas e tipos de macarrão, estava a ler rótulos e origens até que me decidi
por dois tipos: um fetuccine integral básico e um linguine negro com tinta de
lula. Quando coloquei esse último no carrinho, a velhinha me soprou no ouvido
“onde você costuma comprar lulas?”. Ao explicar que tenho por hábito uma
peixaria do Mercado Municipal, me dei conta que precisaria ir até lá para
continuar com o prato. Mais uns dois minutinhos de conversa sobre receita e
modos de preparo, ela me sugeriu fazer o fetuccine com pesto, lembrei que
precisava comprar molho.
Nos despedimos.
Caminhei mais um pouco e estava a comprar
ovos quando a vi de novo, escolhia morangos. Lembrei que precisava de suspiros
e creme de leite. E quando cheguei à prateleira do creme, estávamos novamente
no mesmo corredor; ela escolhia o sabor de geleia o que me fez pensar que
precisava de Nutella para a Lívia. Simpática, disparou “compro essa geleia, mas
como com pão preto para não fazer tanto estrago no colesterol”. Ri e segui
correndo pra padaria, precisava de pão também.
A minha conclusão: talvez se eu fizer as
compras seguindo alguém no mercado, dê certo.