sábado, 28 de julho de 2012

pessoas, pessoinhas e palavrões


Hoje, minha filha de 11 anos entrou no carro com uma conversa estranha sobre os 100 maiores brasileiros de todos os tempos. Eu não gosto desse tipo de coisa, me deixa mal humorada e revoltada. Relacionar pessoas assim sem critério, tendo que comparar e escolher entre um político e um esportista, um sanitarista e um músico, um engenheiro e um empresário... é insano.

Fazer lista entre iguais de profissão ou ocupação já é super difícil, imagine enfiar todos num caldeirão e ir puxando os melhores? Não dá.

Mas, vamos em frente. Ela, que é fã do pop adolescente Felipe Neto, me disse que a tal lista havia sido elaborada pelo SBT (?) e que conheceu a enumeração dos 100 bambambãs do Brasil por ele, Felipe. 

Quem votou foi o povo, e como Rubem Alves diz, o povo não sabe lá grande coisa. Logo, a loucura infinita e a pobreza total de termos nomes da atualidade (que nada significam nesses 500 anos) disputando – e vencendo – espaço com figuras que os livros e a História já consagraram.

Exemplos, povo?

Ivete Sangalo é mais importante que Tom Jobim.  Tiririca vem antes, bem antes, que Vital Brazil. Reinaldo Gianechini tem mais importância que Chacrinha. Neymar é mais relevante que Oswaldo Cruz.

Essa lista só pode ter o objetivo único de elevar índice de audiência na base do custe o que custar.

Com essa conversa toda conheci o Felipe Neto e, ai de mim (como disse Eça e depois repetiu Dalton), gostei. Pelo menos fiquei rindo com a quantidade de palavrões que é possível por parágrafo. 



segunda-feira, 23 de julho de 2012

alguém pode explicar?




o último brasileiro a ter um celular...


Depois que Carlos Alberto comprou o aparelhinho que tanto criticava, odiava, repugnava nossas caminhadas nunca mais foram as mesmas... Agora ele divide as atenções – que em outros tempos eram minhas e da paisagem – entre os amigos, amigas, candidatos, alunos, pacientes, impacientes, pessoas pedindo conselhos, ex-amantes e todo tipo de gente que se coça de vontade de ouvir sua prosa. 






Enquanto isso, eu vou caminhando e cantando, e pra não dizer que não falei das flores, uma cerejeira...






quinta-feira, 12 de julho de 2012

a nona





se essa rua fosse minha, o pé de ipê tava vivo


Você já reparou que as flores do ipê só deixam as árvores para formar tapete colorido quando chegam ao auge da cor, ao ponto máximo, ao estado maior de beleza? Por que será? Uma vez estava conversando, sobre outro assunto, com a Leila Pugnaloni e ela me disse que pensava que as pessoas eram assim... que quando chegam ao entendimento, à compreensão total, ao topo das próprias possibilidades é porque estão próximas do fim... que a vida é boba e acaba justamente no momento em que a gente começa a dar conta de sacar tudo... que a vida acaba no melhor da festa, no melhor da cor. Como a florada do ipê...

Será que é isso?

Mas comecei escrever esse post porque queria falar das cores dos ipês, da beleza deles.

esse ipê fica no interior de SP, numa pracinha de Batatais e foi fotografado em 2006
por Ricardo Ferreira de Paula. Lindo! Lindo! Lindo!

Desde pequena gosto de flores. As crianças geralmente não dão muita bola pra esse tipo de assunto, mas eu aprendi, quando ainda era Nãna ou Adrianinha, a olhar pro colorido e pras formas da natureza.

Aos 8, 9 anos tinha obsessão por rosas, roseiras. Depois margaridas (amava margaridas!). Copos de leite, azaléias e uma infinidade de flores, folhagens e árvores  que minha mãe olhava e eu imitava. Lá pelos 12, 13 virei a cabeça e vi um ipê. Desde então acompanho as floradas. A cada ano elejo um favorito, o mais bonito, o mais emocionante. O que mais conversa, alegra, enfeita e coloca a gente pra pensar.

A temporada está começando, mas há pés que já floriram e já se acabaram. Talvez retornem triunfantes, triunfais, ainda nesse ano, talvez não, vai saber... É sempre uma surpresinha, uma expectativa.

essa super maravilha fica ali na rodoviária. eu roubei a foto do blog do Nego Pessoa,
o trabalho, pra lá de espetacular, é do Dico Kremer e da Carmem Lúcia.
Mas você já reparou como as flores do ipê caem dos galhos? Elas se jogam no chão em piruetas suicidas. Chovem na calçada, se transformam. Passam a tapetes.
Eu gosto de caminhar em cima das flores. O Nego Pessoa acha que é um crime, que é feio e insensível. Eu acho lindo flutuar por ali, uma adaptação de “tu pisavas nos astros distraída...”.

fala sério, não é uma delícia poder andar num lugar assim?
Das pessoas que conheço, que gostam desse tipo de coisa, a Lina Faria é a que mais combina comigo, porque quando ela revela faz isso sempre do jeito que eu olho. A maneira como ela vê as flores é muito parecida com a minha. Acho que se eu fosse fotógrafa e se fotógrafa, fosse competente, seria como a Lina...
Essa foto aí de baixo é um presente dela.

por cima da terra, por baixo do céu, a Lina, eu e o ipê!


quarta-feira, 11 de julho de 2012

cartas que nunca mando


Porto do Havre, 7 de setembro de 1964
Tomzinho querido,

Estou aqui num quarto de hotel, que dá para uma praça, que dá para toda solidão do mundo.
São 10 horas da noite, e não se vê vivalma.
Meu navio só sai amanhã à tarde e é impossível alguém estar mais triste do que eu.
E como sempre, nestas horas, escrevo para você cartas que nunca mando.
Deixei Paris para trás com a saudade de um ano de amor, e pela frente, tem o Brasil, que é uma paixão permanente em minha vida de constante exilado.
A coisa ruim é que hoje é 7 de setembro, a data nacional, e eu sei que em nossa embaixada há uma festa, que me cairia muito bem, com o Baden mandando brasa no violão.
Há pouco telefonei para lá para cumprimentar o embaixador, e veio todo mundo ao telefone.
Estão queimando um oleo firme!
Você já passou um 7 de setembro Tomzinho, sozinho, num porto estrangeiro, numa noite sem qualquer perspectivas? É fogo maestro!
Estou doido para ver você e Carlinhos e recomeçar a trabalhar. Imagine que este ano foi praticamente dedicado ao Baden, pois Paris não é brincadeira!  Mas agora o Tremendão aconteceu mesmo! A Europa teve que curvar-se! Mas ainda assim, fizemos umas músiquinhas, como “Formosa“. Você vai ver! Tudo sambão! Parece até que a saudade do Brasil quando a gente está longe, procura mais a forma do samba tradicional do que a Bossa Nova; não é engraçado? São como diria o Lucio Rangel: “as raízes!”.
Vou agora escrever para casa, pedindo dois menus diferentes para minha chegada. Para o almoço, um tutuzinho com torresmo, um lombinho de porco bem tostadinho, uma couvinha mineira e, doce de coco. Para o jantar, uma galinha ao molho pardo, com arroz bem soltinho e, papos de anjo. Mas daqueles que só a mãe da gente sabe fazer! Daqueles, que se a pessoa fosse honrada mesmo, só devia comer, metida em banho morno, em trevas totais, pensando no máximo, na mulher amada. Por aí, você vê como estou me sentindo; nem cá, nem lá!
Fiquei muito contente com o sucesso de “Garota de Ipanema“, nos Estados Unidos. E  Astrudinha, hein? Que negocio tão direito. Vamos ver se desta vez, os intermediários deixam “algum” para nós!
Fiquei muito contente também, com a noticia do sucesso de “Berimbau” aí no Brasil. Dizem que estão tocando a músiquinha “pra valer”! Isso me alegra muito pelo Baden. E pra que mentir? Por mim também! É bom saber que a gente não foi esquecido, que o povo continua cantando as nossas coisas; pois no fundo mesmo, é pra ele que a gente compõe!  Lembro-me tão bem, quando fizemos o samba, uma madrugada, há uns 3 anos atrás, por aí. Eu disse ao Baden: isso tem pinta de sucesso. E ficamos cantando e cantando o samba até o sol raiar.

“Quem é homem de bem não trai o amor que lhe quer seu bem.
Quem diz muito que vai não vai, assim como não vai, não vem.
Quem de dentro de si não sai, vai morrer sem amar ninguém.
O dinheiro de quem não dá, é o trabalho de quem não tem.
Capoeira que bom, não cai, e se um dia ele cai, cai bem.
Capoeira me mandou, dizer que já chegou, chegou para lutar.
Berimbau me confirmou, vai ter briga de amor, tristeza, camará.”

Vinicius





sexta-feira, 6 de julho de 2012

yo-yo ma

ganhei presente virtual muy precioso hoje. 
divido:




donaire


Pode existir algo mais admirável, bacana, interessante, bonito, sedutor do que uma pessoa naturalmente elegante? A gentileza de gestos, pensamentos e ações; a fineza no trato e no vestir; a cortesia e a delicadeza na vida... são indispensáveis, peças fundamentais.
Mas tem que ser naturalmente elegante! Nesse tipo de coisa, não dá para forçar a barra, a máscara cai rapidinho. 

quarta-feira, 4 de julho de 2012

grande encontro


Um dos meus jeitos para escapar um pouquinho da loucurada do cotidiano é me esconder por um pedaço de hora na Universidade Livre do Meio Ambiente. 

De quando em vez vou até lá, me sento no sol e fico quieta, olhando. Olhando. Quieta. Antigamente levava livro e lia. Mas hoje em dia prefiro, de fato, não fazer nada.

Hoje estava lá sentadinha a pensar em nada como de costume e, de repente, não mais que de repente, apareceu sem dar aviso, sem anúncio, vinheta ou ruído, bem do meu lado, um tucano. Não um tucano daqueles exuberantes que estampam camisetas ou paineis cafonas em feiras de artesanato. Não! Um tucano elegante, discreto, requintado. Um tucano de bico preto.

Ele veio bem pertinho de mim. Achei que gostasse de silêncio e calmaria e por isso tratei de ficar quieta em sua companhia. Não tive coragem de me mexer nem para pegar o telefone para uma fotografia. Também não puxei conversa. Ficamos os dois ali, parados, lada a lado, cada um com suas coisas, até que ele foi pro meio das árvores e eu pro carro.

Eu achei esse tucano na internet, o que estava comigo hoje era parecido, só que mais caladão, mais na dele, menos exibido.


Vinícius, velho, saravá!

Não me lembro do dia em que conheci Vinícius Coelho. Mas me lembro de tantas outras coisas... 

Conversas no bar, conversas na rádio, conversas em casa, conversas na rua, conversas no carro...
Lembro de todo tipo de papo: alegrias, tristezas, música, futebol, personagens, histórias, risadas, gargalhadas, choros, suspiros... Há muita coisa que ficará em mim pra sempre e, mais ainda, o privilégio de que tudo de melhor que trocamos não tem relação nem com música nem com futebol. 


Acho chato falar de uma pessoa que não faz mais parte disso tudo aqui, pode dar impressão daquela super valorização pós-morte. Mesmo assim tenho vontade de conversar um pouco sobre o Vinícius, acho que só para afirmar o quanto eu gostava dele e me sentia lisonjeada com a sua presença e suas demonstrações de carinho, amizade, etc.

O Vinícius foi, antes de qualquer coisa, um gentlman. Foi sim. Educado, fino, cheio de gentilezas. Que delícia poder ter alguém assim no convívio!

O via, minimamente, duas vezes por semana. Quando chegava aqui e eu não estava e ele não podia esperar, escrevia bilhetinhos carinhosos, contando da sua passagem (que me enlouqueciam, porque ele sempre pegava o primeiro papel que encontrasse para a comunicação – fosse documento importante, carta, memorando, programação...).

Tive a honra de organizar festinhas na minha casa em petit comite para seus 77, 78, 79 e 80 anos. Dessa última tenho um pedacinho que sintetiza o que ele representa pra mim: nos parabéns, primeiro a atenção comigo só depois apagar velas...



Sentirei sua falta Vinícius, foi muito bom!