quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

retrospectiva

ah! nem tenho muitas queixas. 
2014 foi um ano interessante. pessoalmente, vida privada, mais inclinado pro lado do sim.
se eu pensar na sociedade, na cidade, no estado, no país, nas perdas, dá vontade de rasgar a última folha do calendário logo de uma vez. mas não tenho vontade de falar dessas coisas...

em 2014 fui a Antonina. e ao Rio de Janeiro. e à França, Bélgica e Holanda.
vi os jogos da Copa, na TV, no estádio, quantos pude, todos que consegui.

em 2014 vi, consciente, o Dé crescer, mudar de casa, tratar da própria vida. presenciei o primeiro sapato de salto da Lívia e a chegada da Jéssica como filha.

em 2014, eu mudei de casa, de vida, de perspectivas, de vontades, de cotidiano, de ideia.

recebi os amigos. Vera, Etel, Cris, Álvaro, Sylvia, Rodrigo, Suzie, Susi, Rose, João, Vicente, Fábio, Anderson, Vânia, Taís, Alexandre, Carla, Priscila, Iuri, Daihany, Caio,  Jaime, Lu, Joaci, Lina, Lilia, Marta, Laís, Luis e tantos outros.
a família veio também. em doses homeopáticas e em conjunto.
os amigos dos filhos estiveram por aqui, em constância, alternância e frequência que me alegraram.    
horas de cozinha. quilômetros de conversas. megabytes de risadas.  

ganhei flores. muitas. a casa ficou colorida e perfumada.

fui mimada, cuidada, paparicada.


só vinhos? não! levei tombos também, mas gosto mesmo é de falar de coisas boas...


a última faxina do ano

acordei cedo para tratar da limpeza da casa. entre vassoura, aspirador e espanador, repeti um milhão de vezes o mantra de como odeio ter que fazer faxina.

pensei naquelas casas do futuro, em que tudo é branquinho e brilhante, sem um fiapo no chão, coisa meio parecida com um Apple, sei lá. acho que as casas do futuro serão limpas por um scanner. um processo mega inteligente, cheio de raios vermelhos e azuis que a cada três minutos fazem varredura em todos os ambientes.
me imaginei sentada, a ler o jornal e tomar café da manhã. um farelo no chão? zas-tras, o raio passa e a superfície volta ao seu aspecto de espelho imaculado.

tudo bem, antes que isso aconteça, há muito chão por aqui e muita roupa e muita louça e muitos vidros e muito tudo.

a vida doméstica não é para fracos.
eu sou fraca. 
estou na temporada de total adinamia para esses assuntos. tenho preguiça e fico de mau humor. pior, a tarefa entra num círculo maluco. espiral de terror: não basta tirar o pó da cômoda, ao abrir a primeira gaveta é notória a necessidade de limpá-la. e já que a primeira gaveta foi organizada não é certo deixar as outras naufragando em bagunça; e o guarda-roupa? decerto é menos importante que a cômoda? claro que não!, precisa também de cuidados especiais. e já que arrumei o guarda-roupa seria pedir muito um olhar de carinho para as quinquilharias da estante?
e assim vai... um percurso infinito que não acaba e desdenha do meu tempo, como se eu dormisse agarrada a um oito deitado.

como tenho mais o que fazer da vida e minha cabeça tem a incrível capacidade de conversar com meu corpo, a solução chegou sem que eu tivesse que puxar espada e declarar independência: mãos cortadas, empipocadas, ressecadas pelo contato com os detergentes.

ufa! é hora de parar. com toda a dignidade de quem tentou até as últimas forças.  


domingo, 28 de dezembro de 2014

um pequeno defeitinho, não sei se você percebe

não sei se ainda existe isso, mas antigamente quando se era candidato a uma vaga de emprego, a pessoa ia até a firma, roupa especial, e preenchia uma ficha. questionário imenso sobre tudo que compunha a vida do pobre diabo. número de documentos, filiação, profissão dos pais, experiências na função pretendida e em todas as outras, passa-tempo, preferências, etc, etc, etc. era quase um primário caderninho de confidências.
lá pelas tantas tinha um lance assim: indique uma qualidade, indique um defeito. como se já não bastasse litro de tinta de caneta desperdiçado em informações irrelevantes, ainda tinha o cansaço do exercício do auto-conhecimento e a desgraça de produzir provas contra.
tenho medo de buscar informações e chegar à triste descoberta que isso continua igual. espero mesmo que não.

uma amiga que trabalhava num RH de uma grande empresa um dia me mostrou tais fichas e sobre os defeitos estava lá, quase unânime: sou muito sincero.

anos mais tarde, eu e Gabriela Brandalise nos divertíamos com esse “defeito” e quem assume tê-lo: O meu maior defeito é ser sincero; eu falo mesmo, quando não gosto de uma coisa, eu digo logo de uma vez, porque sou sincero.
 
a inversão de fundamentos é tanta que acabou se tornando piada.
primeiro, sinceridade não é defeito.
segundo, quem fala tudo que pensa, não tem freio nem filtro, não tem educação, não tem noção da convivência em sociedade. e isso sim é defeito.

na esteira de se perceber e apontar, depois da tal sinceridade, vem outras características igualmente risíveis: perfeccionista, dedicado, preocupado com o outro.
caçarola! eu sei que para algumas pessoas é difícil se conhecer, para outras se assumir e por fim, mais ainda declarar o lado negro da força. claro que é! e por isso defeitos vão sendo inventados, outros maquiados e assim vamos preenchendo as fichas de emprego. ou as frases que nos definem nos perfis das redes. ou as conversas que julgamos íntimas com amigos.

nesse tempo todo de terapia de botequim nunca ouvi ninguém declarar de peito aberto ou de canto de boca sou uma pessoa egoísta, primeiro eu, depois eu, e em terceiro, o resto; ou alguém que assumisse tenho inveja de fulano porque ele ganha mais dinheiro do que eu; ou ainda a tão humana e comum hipocrisia, falo de um jeito, defendo algumas ideias e ajo exatamente ao contrário.

não sou partidária de que a gente tenha que sair por aí a bradar aos quatro ventos a própria pequinês de espírito. não! ela não pode ganhar voz e tem que ser combatida na frente do espelho todos os dias. mas daí a se florear a ponto de fazer com que características positivas ganhem ares de defeitos só para se mostrar acima de qualquer traço humano, é meio demais.


para quem tem os defeitos de ser sincero, perfeccionista, dedicado e preocupado com o próximo, curiosa, eu pergunto: quais são suas qualidades?

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

ecologia


Faz dez anos.
Estava a caminho de casa, com seis pães quentinhos dentro do pacote e vi, no canto da rua, móvel que parecia um fundo de armário, peça de algum closet antigo. Tinha umas inscrições pichadas e marcas de óleo, tinta, sujeiras mil.
Bati palmas e saiu o dono da casa. Perguntei. Ele me contou que era uma peça antiga, orginalmente feita para um dos quartos, quando veio a reforma, virou armário na garagem para guardar ferramentas e todo tipo de tranqueira que não cabia em nenhum outro lugar. Me interessei. Ele me disse que estava na rua justamente para ser levada.

Eu tinha seis pães quentinhos e pouca força para carregar o móvel. Pedi que o recolhesse de volta, com a promessa de buscá-lo no dia seguinte. O senhor me explicou sobre o inconveniente porque a reforma estava prestes a acabar e não podia entulhar os espaços com aquilo que, para ele, já era lixo. Insisti. Cedeu.

Na noite de planos buscando o melhor lugar para a nova moradora da casa, cheguei à conclusão de que ela precisaria de uma melhorada para compor bem o ambiente.
Manhã seguinte, corri para a loja de tintas e pensei em várias opções. Escolhi um verde, com a ajuda da Chica, a cor verde mais verde que existe.

Com a latinha debaixo do braço, conversei novamente com o homem. Precisava pintar o móvel. Sabe-se lá com quais argumentos, o convenci a fazer o trabalho e depois a entrega e instalação. Ele estava contrariado, mas concordou.

O móvel ficou tão verde e tão lindo que ele já queria desistir do negócio e recolocá-lo em seu antigo lar. Resisti. A palavra ali tinha que ter peso. Ele prometeu e tinha que cumprir até o final. Assim foi feito.

Na minha sala, virou estante. Acomodou, com elegância e graça, CDs, livros e toda sorte de quinquilharias que arrasto ao longo dos anos.

Mudei de casa, levei-a comigo.

Mudei novamente e já era hora de nova pintura. O Anderson, a quem foi entregue a tarefa, escolheu um verde ainda mais verde. Bandeira. E aumentou o número de prateleiras possibilitando que mais moradores se instalassem em seus contornos.

Não sei se foi o monta-desmonta, a idade avançada, as aventuras de tantos anos, as novas prateleiras ou o peso excessivo. Mas a verdinha criou barriga, envelheceu, se enverga com a idade. E agora chegou a hora de aposentá-la.   

Queria dar-lhe destino justo depois de tanto tempo aguentando todas as barras dessa e de outras casas. Não tenho coragem de oferecê-la a alguém, porque os esforços dos anos a deixaram cansada e não me parece coisa certa ofertar peça assim. Mas ela está aqui, órfã, verde, madura, a procura de novo lar.


Alguém?



quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

bate o sino

já adorei as festas de final de ano. 
quando criança, a China não era tão grande e tão perto. as quinquilharias e pequenos presentes não faziam visitas quase cotidianas como hoje. os presentes tinham datas específicas e raramente em dias fora das marcas aguardadas no calendário. o natal era o ápice. 
os natais da minha infância foram fartos. número sem fim de presentes e parentes e comemorações. 
época das grandes conquistas do ano: bicicleta, patins, patinete, pranchas, bonecas que falavam, cantavam e batiam palminhas. encomendas sugeridas pela moda de cada tempo. 

já detestei as festas de final de ano.
um pouco crescida, entendi o natal como obrigação familiar. nunca gostei de incumbências. o fato de ter que estar num lugar com determinadas pessoas e me comportar de forma ditada me incomodava. 
nem o mundo embalado em papéis coloridos e fitas de cetim me livravam do mau humor. 
eu era boba, criança de quase 1,80m tentando impor liberdade em situação que não cabia. 

já fui indiferente às festas de final de ano. 
num determinado momento, o conformismo se instalou em mim. tomou meu corpo e espírito com tanto poder que sorria plastificada e abria os presentes em gestos mecânicos - cuidados com o papeis para usá-los em outras ocasiões. lista de compras feita em setembro, tudo decorado segundo revistas especializadas no tema e comidas impecavelmente douradinhas e borbulhantes à mesa. 

chegou o tempo em que puxei a espada e declarei independência. faria o que bem entendesse com meus dias de dezembro. se não tivesse vontade, não lotaria meu forno com pesadas aves, não aumentaria a potência da geladeira para refrescar as bebidas, não encontraria ninguém que tivesse mesmo sobrenome que eu. 
livre!
o que eu fiz com minha primeira efeméride de escolha própria? olhei pro lado e entendi o quanto era importante para família que eu estivesse perto. olhei pro espelho e saquei sobre a importância de ter a família, em todo seu esplendor, ao meu redor. 
meia volta, voltei. 

hoje o natal é um misto de tudo. cozinho, sirvo, sou servida, compro presentes, ganho outros tantos. nada me fere. algumas coisas me comovem às lágrimas (ano passado ganhei trintão de um tio para que eu comprasse uma coisa que me agradasse porque ele não tem muito jeito para essas coisas, isso é ou não é uma lindeza?). 
ainda o que chamam por aí de consumismo é nosso ponto alto, não vejo problema. o tempo é propício, não há arestas nem perdões nem solidariedades nem nada de especial para ser praticado. fazemos tudo isso no tempo devido e não quando alguém inventa que é hora. 

minha conclusão: sou obrigada ao natal com a família e gosto disso.