Ilana,
Ao ler o que você escreveu no seu tão bacana
Pensamentos Imperfeitos fiquei com vontade de contar sobre o que aconteceu
nesse canto da cidade.
Pode ser que a Copa tenha encerrado as
atividades por aqui. Talvez. A Arena fechou os portões, a Pedreira ainda faz
convite. Hoje o céu nublou, as nuvens cobriram tudo e a meteorologia diz que as
coisas vão mudar. Pode ser, talvez.
Mas até agora, do lado de cá, enfrentamos o
campeonato com simpatia, bom humor e entrega. Por aqui, a cidade se pintou:
cortinas ganharam estampas de estandartes, carros sacudiram bandeirinhas ao
vento, pendões por todos os lugares. As gentes do mundo andaram pelas ruas,
fizeram poses pros retratos, lotaram bares e restaurantes, exibiram suas cores
pátrias em roupas e línguas.
Uma multidão tão diferente rodou pelo meu
triângulo de circulação, Bigorrilho, Centro e Mercês, que até cheguei a pensar,
imagine, que estava numa cidade grande, cosmopolita. Em algumas vezes cometi a
ridicularia de deixar meu inglês de ginásio fugir da boca.
Meus olhos acompanharam devagar os nômades
que fizeram da nossa província parada obrigatória no corredor dos cartões
internacionais Rio-Foz.
Nos dias de jogos, Ilana, as festas foram
tantas e tão lindas, que torço por um documentário só sobre elas, sobre as
ruas, sobre as gentes que caminhavam para o estádio sem saber direito o
endereço, mas eram puxadas para o Joaquim Américo feito aquela agulha que
esfregávamos na roupa para virar bússola, lembra? As pessoas se misturavam,
cada turma com sua música, numa corrente universal que marchava numa única
direção. Exército colorido e feliz.
Fui a um dos jogos. E essa lembrança estará
comigo até meu último dia.
No caminho, até o ar blasé tão curitibano
virou fumaça. Topetes se transformaram em sorrisos, silêncios em histórias,
distâncias em fraternidade. Tudo nas ruas, Ilana, tudo em todos. A grande festa
da Copa é capaz de converter até o mais sério dos polacos... A gente ia andando
no meio da rua, rua sem carros, com emoção maior do que aquela de criança em
véspera de natal. Coisa linda de ver. Maravilha de sentir.
Dentro do estádio, nem te conto, porque não
quero chateá-la com carta maior que minhas possibilidades de comunicação, mas
quando o sistema de som anunciou o o tamanho do público das arquibancadas e
apareceu no telão o número 39 mil e pouco, todos nós aplaudimos e gritamos e
acho que todos choramos por nos sentir protagonistas de um grande momento.
Não há razão, Ilana, é só a emoção bruta
correndo por todos os lugares. E o olhar da gente fica diferente, alheio.
Aprendi que Copa do Mundo tem 10% de futebol
o resto é tudo que se pode. Até para nossa Curitiba.
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