segunda-feira, 18 de agosto de 2014

em três, quase quatro, capítulos


Desliguei o computador, enfiei meia dúzia de roupas na mala, tranquei as portas da memória e saí de férias.
O que eu queria? Olhar para o mundo sem carregar lembrança, peso ou obrigação. O que eu consegui? Pouca coisa até agora.

Capítulo 1: Lembrança
Cheguei ao aeroporto confiante. Na fila do check-in senti o indicador nas minhas costas, Adriana, quanto tempo!. Era a minha primeira recordação do passado. Amiga de infância. Puxou papo e na serpente de malas tratou de me resumir três décadas de vida. Depois rememorou tudo que lembrava, e acho que também o que inventava. 

Capítulo 2: Peso
Na sala de embarque, sem possibilidade de me concentrar em leitura, passatempo ou meditação, tive ideia esdrúxula. Entrei no free-shop e fiz compras. A cabeça criativa, mas pouco prática, fabricou de surpreender com taças e champanhe quem me esperava. Burrice. Achei divertido sair do avião com a comemoração em punho, festejando a hospitalidade. Quando a mocinha do caixa me entregou o pacote, senti a dificuldade, como seria chato arrastar sacola pesada pelas próximas horas.

Capítulo 3: Obrigação
Para cuidar do tempo que ainda restava, tratei de me enfiar num canto do aeroporto longe de qualquer tipo de papo ou distração. E daí que o relógio demorasse mais? Melhor ficar resguardada de encrencas. Pois veio até mim senhora humilde, frágil, assustada. Pediu informações. Pesquisei o painel e respondi. Me disse que precisava ir ao banheiro e falou sobre o incômodo das duas bolsas. Agarrei minha mala, minha bolsa, minha sacola pesada, as bolsas dela, a conduzi ao banheiro, esperei paciente e atravessei corredores apinhados de gente para deixá-la, sem equívocos, em seu portão.

Agora, dentro da nave. Estou sentada na janela, não é exatamente olhar para o mundo, mas até aqui, é a parte que se salva dos meus planos.  

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