segunda-feira, 27 de outubro de 2014

terra da felicidade

Não sei se acontece com todo mundo, mas a cidade de Salvador para mim é um estado de espírito. Um lugar que povoa minha imaginação de uma forma muito descolada da realidade de uma metrópole em que quase três milhões de pessoas vão e vêm. 

A Salvador de toda minha vida tem baianas do tempo do imperador; acordam em trajes brancos, rendados, rodados e adocicam tudo com aquele jeito manso de falar, um acarajé sempre pronto e um samba de roda na ponta da língua para embalar a vida doméstica. Nada lhes tira a calma ou compromete o requebrado do andar, balé sensualíssimo nas pedras do Pelô.  

Os baianos todos - incluindo professores, motoristas, frentistas, médicos e advogados - são pescadores e cantores; homens do mar e da poesia, com o corpo torneado pelo exercício do remo e das velas e as palavras escolhidas pela beleza. Em todos eles, até nos contadores e bancários, o olhar de enlouquecer. 

Na minha Salvador o tempo passa lentamente e há sempre uma rede debaixo de um coqueiro; ali pertinho, um regional de camisa listrada e chapéu panamá batuca simpaticíssimo as aventuras do amor e do cotidiano. Todas as canções que falam das sacadas e sobrados da velha São Salvador são revividas com graça e tranquilidade. 

Dorival Caymmi está nos altares das 365 igrejas que a Bahia tem, Jorge Amado de um lado, Castro Alves de outro. Candomblé, capoeira e fitinhas do Nosso Senhor do Bonfim são expressão e cenário, vida e arte, abrigo e composição para que a aristocracia desfile nas tardes de domingo a caminho da matinê do Cine Olympia ou de algum musical no Cine-Teatro Jandaia - os dois ali, na Baixa dos Sapateiros, na antiga J.J. Seabra. 

Todos os santos católicos descansam e olham para o tempo, passeiam pelo Mercado, contornam o Farol da Barra, as vezes gritam Gregório de Matos, as vezes sussurram Antônio Vieira. Eles lavam escadarias, almoçam em terreiros e beijam as mãos de Iemanjá.

Essa é a minha Bahia. E é ela que visito em sonho ou em cartazes de agências de turismo. 
É pra lá que eu vou quando a realidade se impõe cinza, barulhenta, dura, fria.

Bahia, terra da felicidade…


Nenhum comentário:

Postar um comentário