sexta-feira, 10 de outubro de 2014

slow motion

tenho preguiça. muita. 
não me envergonho, até acho saudável e de certa forma uma prova de alguma inteligência. a preguiça me defende de encrencas, é escudo protetor de algumas situações, primeiro degrau para o Olímpio do ócio.

é muito mansinha, chega devagar, apalpa o corpo, percorre as veias, solta o ombro, prepara para levitação. 
depois sobe pra cabeça. vai apagando lentamente qualquer figurinha que transborde, despreza pensamentos démodés, não faz contas, deixa os esforços de entendimento de lado. 

com a preguiça sempre rola um aviso a respeito das precisões do corpo e da mente: relaxe, descanse, se solte, se largue. 
ela é quase igual à mãe preocupada que acha que o filho trabalha demais, se incomoda muito e descansa pouco. ela sussurra os conselhos incompatíveis com as urgências cotidianamente inventadas por quem tem medo de fruir. 

tenho preguiça e a cultivo como fatia saudável de tudo que me compõe. e porque não luto contra, ela acabou também se disciplinando e sabendo dos horários para as manifestações irrecusáveis. 

a preguiça tem som de bossa nova, gosto de alcachofra, oscila entre o lilás e o azul, tem perfume de lírio e acaricia a pele como o algodão da camiseta mais velha e surrada do armário. 
a preguiça é o meu ópio, é nela que me refugio das agruras do mundo. 

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