quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

acumuladora

sou pessoa que se comove com necessidades alheias. aprendi que se é uma coisa que tenho que fará o sofrimento do próximo diminuir, eu doo. não tem problema.
mas mesmo assim, me agarro a alguns objetos sem saber direito o motivo real.

os exemplos.

saca camiseta de promoção? loja, vereador, campanha... essas que a gente nunca usará nem em público nem no conforto do lar. então, quando ganho uma, se não me desfizer imediatamente, ela acabará, inexplicável e virgem, no meu guarda-roupa até o final dos tempos. não entendo. toda vez que vou bater aquela geral no armário e tiro peças que já me acompanharam por anos de jornada, não consigo me desfazer dessas sobreviventes. me passa pela cabeça o pensamento idiota de que elas um dia me servirão para dormir, lavar vidros, fazer mudança, pintar a casa, mostrar aos netos como era a marca da Nestle na década de 90 ou qualquer outra desculpa que nunca se concretizará.  

chaveiro. mesma coisa. é óbvio que jamais pendurarei minhas chaves num cortador de unhas da Compagás, mesmo assim a casa está coalhada deles. tempos atrás, resolvi encerrar esse sufoco, coloquei-os juntinhos numa caixa de sapatos e decretei que faço coleção de chaveiros. pobre de mim, tão medíocre a minha ideia que não passo de uma acumuladora de chaveiros vagabundos.

outra coisa que não consigo me livrar são os bilhetes de lugares que fui. tenho uma caixa cheia de entradas de shows, teatro, cinema, gafieira, churrasco de igreja. alguns até que são memoráveis e faz um certo sentido pelo valor sentimental ou histórico em questão, mas a maioria não tem cabimento, principalmente aqueles que vêm em papel de fax e se apagam com o tempo. há um sem-número aqui de bilhetes que não têm mais inscrição do que foram, mas não consigo me desfazer, não quero ser ingrata com um papelzinho que pode ter me proporcionado grandes momentos. 

as coisas dos filhos. tenho material para inaugurar um museu para cada um. tudo começou na maternidade, guardei primeiro aquele bracelete que identifica o bebê, serviu de alimento para a compulsão: umbigo, dentinhos de leite, primeiro sapato, trabalhos escolares, provas, boletins, cadernos, bilhetinhos, um milhão de cartas. as roupinhas se foram, mas guardei um modelito de cada manequim. imagine o tamanho desse baú, ele com 22 anos, ela com 14.

é verdade que quando mudei de casa, veio um caminhão cheio pro novo endereço e um outro cheinho também ficou para trás. quando decretei que estava encerrada a temporada de mudança, não quis saber o que ficou. com o tempo fui descobrindo: aspirador de pó, panelas, patins, caixas de som, quadros... coisas que me seriam úteis.

o pior vem agora. encabulada confesso: nas minhas andanças com a Lilia por Amsterdã e arredores, vi museus, prédios, cafés, praças, feiras, moinhos, maravilhas que me marcaram a retina eternamente. mas quando ela me levou a um imenso mercado das pulgas, fiquei calculando quando custaria alugar um contêiner para trazer lembranças dos Países Baixos...


Nenhum comentário:

Postar um comentário