segunda vez, na primeiro eco que contava sobre o assunto, fui apresentada à Lívia. fiquei tão feliz, que duvidei do passado e achei que sempre havia sonhado ter filha, ser mãe de menina.
há particularidades de gênero. há de personalidade, claro, e elas são mais importantes e marcantes. mas há as de gênero e são inegáveis.
ser mãe de menina é ter uma companhia fiel e sincera, disposta e impiedosa, para as mais variadas situações.
repare.
nós duas atrás de vestido pra mim. temos gostos muito diferentes, opostos, díspares. minha filha preferiria que eu me dobrasse diante de suas predileções e bom gosto. sei do seu sonho de me ver bem vestida, roupa passada à ferro, maquiagem nos trinques, scarpin e cabelos esvoaçantes. mesmo assim se diverte com meu estilo. claro, se eu não tiver que aparecer em público, para o seu público.
pois bem, nós duas atrás de vestido pra mim. ela sugere loja. torço o nariz, "não seja assim, mãe". entramos. olhar atento, logo denunciou a preferência. fiquei quieta, sem crítica, sem opinião, sem entusiasmo. sabedora de tudo, deu a volta na arara e apontou, esse ficará ótimo em você. verdade. mas eu não quis. paciente, garimpou lojas, pensou em tamanhos, cores, possibilidades. caminhou com bom humor mesmo diante da minha eterna inadequação e insatisfação. incansável. ela é mulher e sabe bem que, independente do estilo, comprar um vestido não é coisa fácil na selva de cafonice reinante.
tem coisas que só filha entende.
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