domingo, 7 de dezembro de 2014

na churrascaria

como carnes, peixes, aves. gosto de tudo que anda, nada, voa ou se arrasta. estômago de avestruz, que como também. 
mas tem uma coisa, esse lance de churrascaria é mesmo parada selvagem. sushi, sashimi, bacalhau, risoto de não sei quê e rodízio de carnes, de carnes e massas, de carnes, massas e sobremesas. ninguém é obrigado a nada, claro, cada um que dê jeito de cuidar da silhueta e do colesterol. é preciso disciplina de monge budista para se manter concentrado. não tenho. 
pior que uma churrascaria, é uma churrascaria aos domingos. 
prefiro coisa à la carte, escolho um corte, uns acompanhamentos e pronto. mas na democracia doméstica, fui voto vencido e sem perceber já estava com a senha 77 a bebericar batida de maracujá. pra que isso? 
sentamos. pedi água. primeira, e única, vitória do dia.
fazia tentativa de ser civilizada na fila do bifê e namorava aspargos e alcachofras e de repente umas polentinhas fritas pularam pro meu prato. fui seduzida também, a luz do dia e sem cerimônia, por uns aneis empanados. vai-se a cintura, ficam os aneis.
o papo na mesa só não seguia com tranquilidade porque era preciso a cada dez segundos interromper a conversa para pequenas intervenções: não, obrigada. / sim, bem fininha. / aceito esse cantinho aqui. / prefiro mal passada...
ao final, sabia que havia deixado que todos os meus instintos virassem gula. eu não posso dar o primeiro gole, sei disso, e mesmo assim não resisti à primeira picanha que piscou pra mim. fiz comunhão, puxei fôlego, declarei votos e me entreguei a ela. infiel, caí nos encantos da alcatra e da maminha e do mignon e de qualquer pedacinho vulgar de carne que insistiu em rebolar na minha frente. quem me via de longe, até poderia pensar que eu era uma lady, minhas maneiras à mesa enganam um distraído, mas dentro de mim, mora um ogro insaciável. 
voltei pra casa com aquela melancolia que nasce no estômago, se espalha pelo corpo todo e faz cócegas nos ombros. para recuperar a auto-estima fiz uma jarra de chá verde. mas bebi só uma caneca a provar que tenho auto-controle.


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