quarta-feira, 21 de maio de 2014

Primeiro Motivo da Rosa


Amanheci dentro de um dia perfeito.

Quando cheguei na cozinha, a pia estava limpa, seca, vazia, o suco pronto, pão quentinho.

Apertei o botão e Mozart, rápido mas não muito, tocou baixinho pra mim.

Com os primeiros raios, veio o cão. Preguiçoso, deitou-se no tapete e encostou a cabeça no meu pé. Ficamos por ali, em silêncio, vendo o dia chegar, os barulhos anunciantes, o friozinho pela janela, árvores em balanço suave.

Disse não ao jornal e saquei Meireles, a Cecília, abri em página qualquer, como amuleto da sorte, oráculo do dia, biscoito chinês, dica zodiacal. Para melhorar o que já parecia o ápice, ela me disse assim:
Vejo-te em seda e nácar,

e tão de orvalho trêmula,
que penso ver, efêmera,

toda a Beleza em lágrimas

por ser bela e ser frágil.



Meus olhos te ofereço:

espelho para face

que terás, no meu verso,

quando, depois que passes,

jamais ninguém te esqueça.



Então, de seda e nácar,

toda de orvalho trêmula,
serás eterna. E efêmero

o rosto meu, nas lágrimas

do teu orvalho... E frágil.

O escândalo das primeiras horas se perpetuou durante o dia e hoje nem senti falta do mar...



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