Não se mate
(Carlos Drummond de Andrade)
“Carlos,
sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será [...]”
Já não fazia há meses e fiz por muito tempo,
hoje saí cedinho de casa para tomar café da manhã em hotel. Louca por um tipo
específico de guloseima, escolhi o lugar que mais gostava no tempo do antigo
hábito.
Busca rápida pelo salão, encontrei mesinha
simpática e solitária. Veio o garçom: “Está sozinha?”. Respondi e ele se
apressou em tirar o jogo de louças do segundo lugar e sumiu no salão. À mocinha
que servia, pedi que me trouxesse café; perguntou se eu estava esperando
alguém, respondi de novo e fui saciar a gula... quando voltei do buffet, para
minha surpresa havia pratos, talheres e xícara montados para um acompanhante
imaginário. Por fim, o rapaz da conta me perguntou se havia mais alguém comigo.
Nessa semana, um pretendente ao receber minha
falta de interesse em relacionamento amoroso, me desejou que eu fosse feliz,
que encontrasse alguém que me quisesse tanto quanto ele, que eu não me calasse
diante de um amor e que soubesse dizer sim para ser completa...
Me sinto meio ridícula hoje em afirmação que
vale quando se tem 20 e poucos anos e os freios soltos para o amor livre, para
o querer de tudo um pouco e para a satisfação em voar. Mas o único pensamento
que ainda me invade e define é esse, o da certeza do caminhar solitário, longe
dos folhetins ocidentais e da falsa monogamia que todo mundo quer ter e ninguém
pode dar.
Há nisso um ar de hipponga tardia, coisa
démodé, que deveria ficar enterrada nas profundezas das bocas de sino dos anos
70, eu sei. Assim como parece também coisa de quem ainda não tem um par e
esconde ressentimento atrás de ideia pouco convincente.
Mas apesar de tudo, sigo caminhando como
comecei: sozinha. E se encontro um amor pelos trilhos, não é para completar o
lugar da mesa ou da cama, ou para escrever poemas e pedir sussurros, ou ainda
para me refugiar de mim mesma. Se estou acompanhada é porque quero e porque
gosto e entendo o melhor para o momento.
Não tenho quedas para o compromisso
socialmente ditado e também não me oponho aos relacionamentos infinitos da vida
inteira. Prefiro pensar e sentir a satisfação de fazer as próprias escolhas de
um jeito um pouco mais livre, com a verdade de todo dia e deixar que Tristão e
Isolda ocupem lugar na minha ficção – ou não.
Porque é possível e impossível ser feliz sozinho...
Lindo Adri!
ResponderExcluirsaudade de você, Fran.
Excluirbeijinho
;-)