Tenho problemas de visão.
Não enxergo muito bem de perto. Como é mesmo
o nome disso?
O defeito me faz sempre dar dois passos pra
trás.
Na distância consigo perceber melhor. A vida
me parece uma imensa tela impressionista. Se estou envolvida, as pinceladas não
têm contorno, viram manchas da realidade, imagens que não me dizem. Preciso
sair da cena para poder habitá-la com pureza.
Talvez o caso se dê por esse excesso de
emoção que sempre está comigo e não permite observações e conclusões. Talvez
por burrice mesmo, necessidade do todo já passado, explicado, provado. Não sei.
O passado me parece tão simples e compreensível
que qualquer ignaro perceberia à época. Minha existência se resume em viver o
presente e o passado ao mesmo tempo, em tempos diferentes.
No agora tenho as confusões cotidianas e o
passar de régua nas antigas pendências. Ao mesmo tempo em que me afundo nas
emoções do dia de hoje, desvendo as de ontem.
O atraso nas descobertas é uma fileira de dominó
infinita. Quando uma pedra derruba a outra e se aproxima entro em parafuso. É a
sombra daquilo que já foi, que agora eu sei que já foi e o que foi, que me
assusta.
Como minha capacidade para o que está perto é
manca, me contamino com o que conheço.
Ao concluir isso, me declaro besta-fera,
incapaz do aprendizado e da calmaria para sacar o presente.
Solução? Deixar que passe. Com a próxima
subida de sol, resolvo e confundo.
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