Da janela do quartinho vejo a chuva que se
aproxima. Chumbo no céu, muito verde balançando no vizinho e um cheiro de
infância.
Gosto quando as nuvens desabam. Não deve
demorar muito para acontecer.
Daqui, espio a natureza se transformando e
imagino rios correndo furiosos, a serra do mar em rodopio, a areia da praia
furada pelos pingos.
Fujo desse planalto e fico em outro nível, a
lembrar de quando era pequena e vi tempestade no mar. Raios, águas doces e
salgadas em agastada mistura, vendaval. Não lembro quantos anos tinha, mas sei
bem que fiquei muito impressionada. Era verão e todo aquele movimento não
acalmava o calor. Era Santa Catarina e a reunião de céu, terra e mar não nos
tirava o sotaque “gente!, que chuvarada!”. Era dia e todas as luzes estavam
acesas.
As palmeiras penteadas pro lado do
continente, avenidas no curso das águas, o comércio fechado. Lembro de um rapaz
carregando um poste de algodão doce na prancha de isopor que flutuava guerreira
pela correnteza da rua e meu não entendimento sobre o porquê de salvar a
mercadoria assim, se ela não serviria mais para o consumo tanto que chovia em
cima.
A chuva me afastava da brincadeira na praia,
mas atiçava meu pensamento e eu navegava por outros lugares e me imaginava Noé,
Poseidon, Zeus, Fred Astaire.
Me via dona absoluta de aventuras incríveis,
críveis.
Eu ainda era menina e a chuva já me levava
para outros lugares...
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