Tenho visto aqui e ali, e cada vez mais,
protestos contra a ditadura da beleza; gente que está cansada de ser apontada,
comentada, observada pela mira implacável de quem valoriza muito o envelope.
Também, em movimento contrário, bizarrices
sobre a aparência; gente louca a fazer coisas inacreditáveis para enfrentar o
espelho e os olhares alheios.
Nunca fiz plástica, por incompetência não
consigo emplacar regime, mas sou completamente favorável que as pessoas façam
suas moderadas gambiarras para se sentirem melhor.
Eu, por exemplo, passo hena no cabelo porque
é muito grisalho e não gosto; se tivesse mais força moral estaria seis quilos
mais magra; uso rímel para alongar os cílios e sou adepta à depilação. Pequenos
atentados artificiais com o objetivo de dar uma ajudazinha à natureza.
Acho estranho olhar calendário que tem como
estampa pessoas gordas e no título a bandeira de ser “contra o padrão de
beleza” ou “se amar e se aceitar” ou, ainda, “ninguém tem nada com isso”.
Tenho cá pra mim, pelo menos até agora, que
isso acaba por sublinhar a necessidade do aceite da aparência, seja ela qual for.
E nessa balada, acho que a barra deveria ser forçada para outro lado. Ao invés
de concentrar esforços em mostrar as evidentes humanidades do lado de fora, que
tal se essa ânsia convergisse para o lado de dentro?
Que tal um calendário com o que de melhor
modelos gordas ou magras, feias ou bonitas, altas ou baixas têm? E o que de
melhor as pessoas têm? Suas humanidades de dentro, espero eu.
E se no lugar das imagens viessem frases,
pensamentos, conceitos, vivências? Isso, vivências. Alguns caracteres a contar
sobre alguma coisa que valha pensar quando a gente vira a folhinha e avança
mais um mês...
Queria dizer isso, pronto, disse. E agora
aguardo as metralhadoras, que me chegam sempre dos lugares mais inesperados.
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