finalmente aconteceu de eu ter um leque. ando,
pra cima e pra baixo, a me abanar. não com a elegância das europeias do século
XVII, mas esbaforida pelo calorão das estações, do ano e da idade.
é divertido ter um leque. nesse momento da
vida, não há acontecimento em que ele não seja figurino obrigatório.
o lance de tentar afastar as quenturas
internas e externas por supuesto é evidente. mas há outras ocasiões em que ele
conta em negrito e caixa alta sobre as intenções. exemplos:
- minha irmã a me falar fofoca familiar.
diminuo o ritmo da abanação na medida em que as notícias vão ficando mais
picantes;
- se estou na loja e repentinamente a
atendente acaba com meus sonhos me contando o preço do vestido, fecho-o rápido;
- quando o gerente do banco tenta me convencer
a fazer um percurso diferente na minha conta, olho-o sério, leque fechado
apoiado no queixo;
- se a notícia é séria, porém não grave,
aumento a velocidade do vento;
- se a notícia é séria e grave, fecho-o
dramática e jogo-o no canto do sofá.
- ainda, quando estou sozinha olho para o
leque e lhe confesso pensamentos particulares, como quem escreve num diário.
não sei mais viver sem leque. fico matutando
como vou fazer quando o inverno chegar. o cachecol não permite tantas possibilidades,
na primeira fofoca de família, já estarei enforcada.
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